segunda-feira, 3 de maio de 2010

Uma reunião de gente de peso

Denis Russo*
Planeta Sustentável - 28/04/2010
Denis Russo é conselheiro do Planeta Sustentável, colunista da Veja.com e diretor de informação da Webcitizen, empresa dedicada a unir cidadania e tecnologia.

Em agosto de 2009, nas vésperas da conferência sobre o clima de Copenhague, o governo brasileiro parecia decidido a se comportar igualzinho aos dos outros países emergentes: não iríamos nos comprometer com meta nenhuma de redução das emissões de carbono. Afinal, foram os países ricos que transformaram a atmosfera numa estufa, cabia a eles limpar a caca. Nós, emergentes, até aceitaríamos parte da responsabilidade pela solução, mas não prometeríamos nenhuma meta clara sem que os ricos o fizessem primeiro. Lula pensava assim, Dilma pensava assim, ninguém achava que fosse ser diferente.

Aí, duas coisas aconteceram. Primeiro: Marina Silva saiu candidata a presidente, espalhando pelo governo a sensação de que Dilma teria que ser “esverdeada” se não quisesse perder votos para a acreana. Segundo: um grupo de grandes empresas brasileiras divulgou uma “Carta Aberta ao Brasil”. Eram só pesos-pesados da economia – na ordem alfabética, os 27 signatários iam da Alcoa ao Walmart, passando por Natura, Odebrecht e Votorantim. Enfim, um teco respeitável do PIB brasileiro. Na carta, as empresas insistiam que o Brasil deveria sim “assumir posição de liderança nas negociações para a definição de metas claras de redução global das emissões de gases do efeito estufa”.

O governo então mudou de ideia na última hora e o Brasil se destacou em Copenhague como o único emergente a se comprometer com metas. “O governo não aguentou quando percebeu que nós, os empresários, estávamos à esquerda dele no que se refere às mudanças climáticas”, me disse um executivo de uma das “Empresas pelo Clima”, na reunião que se realizou ontem, em Campinas, para discutir como o grupo pretende continuar influenciando o debate.

Copenhague, como se sabe, foi um fracasso. Mas certamente não em todos os aspectos. Se a conferência definitivamente falhou ao não decidir praticamente nada, o tema das mudanças climáticas passou de verdade a fazer parte do dia-a-dia de um monte de gente nas empresas, nos governos e na academia. “Copenhague não fechou acordo, mas mobilizou tanta gente que a mobilização continuou”, disse ontem o engenheiro florestal Tasso Azevedo, assessor especial do Ministério de Meio Ambiente e consultor do Grupo de Trabalho Empresas pelo Clima. O mundo começou concretamente a mudar na direção de uma economia de baixo carbono, e certamente vai continuar mudando ainda que as próximas conferências sobre o clima tampouco cheguem a resultado concreto.

O evento de terça-feira, no qual algumas dezenas de empresários de terno e gravata passaram 8 horas – com pausa para almoço – discutindo como reduzir emissões de carbono, é prova disso. Todo mundo repetia a mesma ideia: “a transição da economia vai acontecer de qualquer jeito – quanto antes embarcarmos, maior a oportunidade para lucrar com isso.”

No final do dia, surgiu a discussão sobre se o grupo deve ou não defender frente ao governo que as empresas também tenham que cumprir metas obrigatórias de redução. Uau, empresários pedindo ao governo que imponham limites às empresas? Algumas pessoas foram favoráveis, muitas não opinaram, ninguém se disse contra. Tasso Azevedo, ligado ao governo, pediu a palavra para dizer que, “se este grupo for favorável ao estabelecimento de metas obrigatórias para as empresas, quase não tem como não ser”.

Aguarde. Vêm aí mais cartas abertas ao Brasil.

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