segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tons da Natureza


Água virtual: como fazer essa conta

É cada vez mais comum se deparar com informações sobre a quantidade de água que se gasta para produzir bens de consumo. O que pouca gente sabe é como esse cálculo é feito e quanto o resultado pode variar de um país para outro ou mesmo entre fabricantes em locais próximos

Thays Prado – Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável – 08/07/2010

Segundo a organização internacional Water Footprint*, a pegada de água de um produto ou serviço é a soma dos volumes de água doce consumidos e/ou poluídos ao longo de sua cadeia de produção. Entram nesse cálculo a utilização das águas de chuva, das águas superficiais e subterrâneas e mais a quantidade necessária para diluir os poluentes lançados nos cursos d’água, de modo que seus padrões de qualidade sejam mantidos.

O órgão também esclarece que a diferença entre o conceito de água virtual e de pegada de água é que, no segundo caso, além de se considerar o volume de água consumido, leva-se em conta o local de produção dos bens, a fonte da água e em que ponto da cadeia ela é utilizada. Essas informações são importantes para medir de forma mais precisa o impacto de cada produto sobre os recursos hídricos do planeta.

Quando nos deparamos com informações do tipo:
- para se produzir um quilo de arroz, gastam-se 3 mil litros de água;
- um quilo de carne de boi, 15.500 litros de água;
- um litro de leite, mil litros de água e
- uma xícara de café, 140 litros de água, estamos diante da média global de consumo de água na cadeia produtiva dessas mercadorias. Mas esses dados podem variar muito de um país para outro e mesmo entre produtores de locais não muito distantes, que utilizem tecnologias diferentes. A própria Water Footprint tem mapas que mostram a enorme variação da pegada de água em função do local onde um produto é fabricado.

Antônio Felix Domingues, coordenador de comunicação e articulação da ANA – Agência Nacional das Águas, diz que, em certos países como o Brasil, nem sempre é fácil obter as informações das empresas sobre o uso da água nas cadeias de seus produtos e a média de consumo, às vezes, diz pouco na prática. “Os fabricantes estão em diferentes estágios tecnológicos, têm portes variados e muitas não gostam de entregar seus dados porque temem a concorrência ou sonegam impostos”. Para ele, os dados mais fiéis são os relacionados à irrigação, facilmente identificáveis por satélite.

Felix ainda lembra que os processos produtivos variam muito de um país para o outro. “O pasto para o boi, no Brasil, geralmente não é irrigado, ao contrário do criado no exterior. Nós conseguimos duas safras de milho sem irrigação, enquanto a França só produz uma e irrigada”. Ainda assim, ele reconhece a validade do conceito: “A pegada de água nos desperta a consciência de que tudo o que produzimos e adquirimos consome água e podemos usá-la de maneira mais responsável”.

COMO FAZER A CONTA
Ainda que se refiram apenas à média de consumo de água, os números elevados e tão diferentes entre um produto e outro chamam a atenção de leigos e despertam a curiosidade sobre como é feito o cálculo da pegada de água.

A Water Footprint tem um extenso manual que explica, por meio de fórmulas matemáticas complexas, o percurso da equipe de pesquisadores até chegarem aos valores finais. De maneira resumida e simplificada, a conta é feita assim:

PEGADA DE ÁGUA DE UM ANIMAL: Somatória da água utilizada em sua alimentação, mais a água que ele bebe e a que é utilizada em serviços de higiene e cuidados.

A pegada de água de um quilo de bife de boi (15.500 litros) considera que, normalmente, o animal é abatido com três anos de vida e gera, aproximadamente, 200 kg de carne sem osso.

Ao longo da vida, o boi consome em torno de 1.300kg de grãos (entre trigo, aveia, cevada, milho, ervilha seca, farelo de soja e outros), 7.200 kg de pastagem, feno e silo, bebe 24 m³ de água e gasta outros 7 para sua manutenção.

Essa soma é dividida pelos 200 kg de carne produzidas pelo boi.

O que significa que para cada quilo de carne, o animal consome 6,5 kg de grãos e 36 kg de pastagem e afins. Para produzir esses alimentos, são utilizados 15.300 litros de água. Somados aos 155 litros de água que o boi bebe e consome em sua manutenção por quilo de carne produzido, chega-se à pegada de água do quilo de bife.

PEGADA DE ÁGUA DE UMA PLANTAÇÃO: Uso de água (m³/hectare) dividido pela produtividade (toneladas/hectare).

A quantidade de água requerida por uma plantação pode ser estimada com base em dados climáticos, como temperatura do local e velocidade dos ventos, na quantidade de chuvas, na irrigação necessária, nas características do vegetal e no volume de água necessário para diluir os poluentes utilizados na plantação, para que os cursos d’água próximos se mantenham com a mesma qualidade exigida pela legislação local.

No cálculo da pegada de água da cevada, por exemplo, dividem-se os 190 bilhões de metros cúbico de água consumidos anualmente pela produção de mais de 146 mil toneladas de cevada e chega-se ao valor de 1.300 litros de água por quilo.

PEGADA DE UM PRODUTO DERIVADO DA PECUÁRIA OU DAS PLANTAÇÕES: A pegada de água do produto de origem (a colheita ou o animal) é dividida entre seus produtos derivados.

Por exemplo, a pegada do arroz integral (produto processado) é igual à pegada do arroz em casca (produto de origem) dividida pela quantidade de arroz integral que se consegue obter por tonelada de arroz em casca processado. No caso da soja que se transforma tanto em óleo quanto em farinha, é importante saber qual a quantidade de soja é destinada para cada um dos dois produtos para que a pegada de água seja dividida de forma proporcional entre eles.

Com esse critério, a maior parte da pegada de água de um hambúrguer (2.400 litros) se refere à água proveniente da alimentação do boi (15.300 litros por quilo, ou 2.295 litros para a média de 150g de um hambúrguer). Assim como a pegada de água de 75 litros por 250 ml cerveja se deve, principalmente, à produção da cevada.

A pegada de uma camiseta de algodão(2.700 litros), de aproximadamente 250 gramas, também vem, principalmente, da plantação de algodão: 45% está na irrigação, 41% na absorção de água da chuva o crescimento da plantação e apenas 14% na diluição dos resíduos de fertilizantes utilizados na safra e dos produtos químicos da indústria têxtil.

CONSUMO CONSCIENTE
A partir da informação sobre a pegada de água de cada produto, é possível fazer escolhas de consumo com mais consciência. Tomar café ou chá, por exemplo, gera impactos bem diferentes: enquanto são necessários 140 litros de água para produzir um xícara de café de 125 ml, uma xícara de chá com 250 ml demanda apenas 30 litros.
Exigir que os fabricantes informem a origem dos produtos que estão na prateleira do supermercado também pode nos ajudar a optar por aqueles que estejam abaixo de sua média global de pegada de água ou, pelo menos, que sejam produzidos em locais onde não há escassez de água.

Segundo o coordenador de comunicação e articulação da ANA, Antônio Felix Domingues, ainda não é praxe no Brasil medir a pegada de água dos produtos. Ele prefere apostar na cobrança de empresas pelo uso da água e na exigência de certos níveis tecnológicos no processo produtivo como medida de economia do recurso na cadeia dos bens produzidos. “Ainda desperdiçamos demais, mas é possível aumentar a produção gastando menos água”.

Pegada Hídrica

Você sabe quanto vale a água que consome?
Arjen Hoekstra, criador do conceito de pegada hídrica, esteve no Brasil, recentemente, para explicar para empresas e setores do governo como utilizar essa ideia que pode otimizar o uso deste precioso recurso natural

Ivany Turíbio - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 18/03/2011

Você imagina quanta água é necessária para produzir uma simples xícara de café? Ou quanto dela é gasto para a produção de um quilo de carne bovina? E a roupa que está usando, sabe quanta água foi necessária para produzi-la? Quando você souber quanto de água é gasto para a produção de cada produto, em todas as etapas do processo - a chamada água virtual - , começará a ter uma noção do tamanho da sua pegada hídrica.

O nome pode parecer estranho, mas pegada hídrica é um indicador de quanta água doce é usada por um consumidor ou por uma fábrica, uma fazenda, enfim, um produtor. Na prática, significa um método para contabilizar a quantidade de água necessária para produzir bens e serviços e, também, dar-lhe visibilidade, ajudando a preservar a água doce do planeta.

O professor Arjen Hoekstra, da ONG Water Footprint Network*, em parceria com WWF-Brasil, The Nature Conservancy e USP de São Carlos, realizou uma série de cursos e palestras com instituições-chave do país para explicar o conceito, mas ainda é novidade em todo mundo.

Segundo Hoekstra, grandes multinacionais - como Coca-Cola, Nestlé e Unilever, só para citar algumas - já estão considerando a pegada hídrica em seus cálculos de produtividade. Mas os resultados efetivos não devem ser visíveis em menos de dez anos. "A pegada hídrica implica num longo processo, na criação de leis que podem levar de cinco a dez anos para ser implementadas. É preciso lembrar que começamos a falar em mudanças climáticas há apenas 20 anos. E só agora vemos a criação do Protocolo de Kyoto", explicou, com voz pausada e serena, o especialista holandês, em encontro com a imprensa.

No Brasil já há empresas associadas ao Water Footprint Network (Rede da Pegada Hídrica), como Natura e Ambev. E não apenas isso. O governo brasileiro também mostrou interesse pela inovação e compareceram com representantes da ANA - Agência Nacional de Águas aos encontros que aconteceram na semana passada. "Houve uma sinalização positiva para incorporar a pegada hídrica como instrumento de medida para avaliar a qualidade, quantidade e disponibilidade de oferta de águas entre as regiões do país", contou o biólogo Samuel Barreto, da WWF-Brasil. Para ele, o conceito aprimora a leitura sobre a gestão brasileira da água, seja por parte do governo, seja por parte das empresas. "Como todo mecanismo de eficiência, leva tempo para ser implementado, mas resulta por ser mais econômico", afirmou.

E O QUE ISTO TEM A VER COM VOCÊ
E que diferença faz cada um de nós saber que, para produzir uma xícara de café, são gastos 140 litros de água, desde o plantio até a produção da bebida? Ou que um quilo de carne bovina consome 15,5 mil litros desse precioso líquido? A resposta está na possibilidade de se fazer escolhas mais conscientes e responsáveis.

A pegada hídrica de um consumidor brasileiro, segundo os cálculos do professor Hoekstra, é de 3.780 litros por dia, dos quais apenas 5% são consumidos dentro de casa em atividades cotidianas como higiene, limpeza e alimentação. Os outros 95% correspondem à chamada "pegada invisível", presente em produtos industriais e agrícolas.

Para Ruth Mathews, diretora-executiva da Water Footprint Network a pegada hídrica é um recurso importante para se conhecer quanta água usamos, de onde vem e como cada um pode contribuir para que o próprio consumo de água seja sustentável.

Hoekstra lembra que, em 2050, seremos mais de 9 bilhões de pessoas no mundo e que, hoje, já consumimos 30% a mais do que os recursos naturais existentes permitem. E o especialista conclui: "Inverter essa curva de degradação tornou-se uma questão urgente!".

*Water Footprint Network

Boa Notícia

Em Junho, São Paulo sediou o evento da rede C40, que recebeu prefeitos de metrópoles de todo o mundo para discutir estratégias contra as mudanças do clima. O presidente do Banco Mundial anunciou linhas de financiamento para que as prefeituras invistam em ações sustentáveis, como energias limpas.

Fonte: Casa Claudia - Julho/2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Dilma: salve nossas florestas



Campanha Avaaz - O Mundo em Ação

A Câmara dos Deputados acaba de aprovar o esvaziamento do Código Florestal brasileiro. Se não nos mobilizarmos agora, enormes extensões de nossas florestas poderão ficar vulneráveis a um devastador desmatamento.

O projeto de lei gerou revolta e protestos generalizados em todo o país. E a tensão está subindo: nas últimas semanas diversos ativistas ambientais respeitados foram assassinados, supostamente por matadores contratados por madeireiros ilegais. É essencial agir agora mesmo. Estão tentando silenciar qualquer crítica enquanto a lei está sendo discutida no Senado. Mas a presidente Dilma tem o poder de vetar as mudanças se conseguirmos persuadi-la a superar a pressão política e assumir o papel de uma verdadeira líder em questões ambientais.

Setenta e nove por cento dos brasileiros querem que Dilma vete as mudanças no Código Florestal, mas nossas vozes estão sendo desafiadas por lobbies de madeireiros. Agora, depende de todos nós nos mobilizarmos para calar esses lobbies. Vamos nos unir agora em um gigantesco apelo para dar fim aos assassinatos e à exploração ilegal de madeira e salvar nossas florestas. Assine a petição a seguir - ele será entregue a Dilma assim que conseguirmos 500.000 assinaturas.

Assine a Petição
"Estamos fazendo um apelo à senhora, pedindo-lhe que tome medidas imediatas para salvar as preciosas florestas brasileiras vetando as mudanças no Código Florestal. Também insistimos que V.Sa. previna a ocorrência de mais assassinatos de ambientalistas e trabalhadores aumentando a fiscalização contra madeireiros ilegais e reforçando a proteção às pessoas que sofrem risco de ataques violentos ou morte. O mundo precisa que o Brasil seja um líder internacional em questões ambientais. Uma medida firme da parte do governo brasileiro protegerá o planeta para as futuras gerações."