quarta-feira, 31 de março de 2010

Qual o nível da sustentabilidade da população mundial

Doutor em demografia e professor titular da ENCE/IBGE, José Eustáquio Diniz Alves propõe uma análise mais aprofundada sobre cada um dos conceitos contidos na definição de sustentabilidade

Por José Eustáquio Diniz Alves*



É muito comum ouvir as pessoas perguntarem: 1) O mundo tem gente demais ou gente de menos? 2) Qual é o nível de sustentabilidade ambiental da população?
Segundo o Relatório Brundtland, também chamado “Nosso Futuro Comum” (de 1987), o Desenvolvimento Sustentável é aquele “que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Na definicão do EcoDebate: “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável”. Portanto, para se atingir o desenvolvimento sustentável é preciso garantir os direitos humanos e a qualidade de vida da população presente e futura, adotando um padrão de consumo que seja ecologicamente viável.

Assim, várias respostas são possíveis para as perguntas acima, pois o planeta Terra tem capacidade de suporte de uma quantidade variável de habitantes, dependendo do grau de direitos humanos atingido e do padrão de consumo adotado. A Pegada Ecológica é uma metodologia útil para medir a quantidade de terra e água (em termos de hectares globais) que seria necessária para sustentar o consumo atual da população. A tabela 1 mostra os números da Pegada Ecológica para diferentes níveis de renda per capita da população mundial e qual seria a população que a Terra seria capaz de manter de maneira sustentável.

Os países de renda baixa (e geralmente com baixo grau de atendimento aos direitos humanos de sua população), possuiam em 2005 uma renda per capita (medida em poder de paridade de compra – ppp – de 2008) de $ 1.230 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 1,0 hectare global (gha).

Com este padrão de consumo o Planeta teria a capacidade de sustentar 13,6 bilhões de pessoas, quase o dobro da população mundial atual. Isto quer dizer que a população da Terra poderia ser muito maior do que a atual se houver generalização do baixo consumo médio adotado nos países pobres do mundo. Ou seja, se toda a população mundial adotar o padrão de consumo médio de Angola (0,9 gha) ou Butão (1,0 gha) o Planeta poderia sustentar até 13,6 bilhões de habitantes. Neste caso, o mundo seria sustentável em termos geracionais, mas não seria necessariamente “socialmente justo e economicamente inclusivo”.

Os países de renda média, possuiam em 2005 uma renda per capita de $ 5.100 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 2,2 hectares globais (gha). Com este padrão de consumo médio o Planeta teria a capacidade de sustentar 6,2 bilhões de habitantes, um pouco menos dos 6,8 bilhões atuais. Isto quer dizer que com o nível de consumo médio do mundo atual a população da Terra já é maior do que aquela que o Planeta tem condições de manter de maneira sustentável. Ou seja, se toda a população mundial adotar o padrão de consumo médio da África do Sul (2,1 gha) ou do Equador (2,2 gha) o Planeta já estaria em uma situação de insustentabilidade.

Os países de renda alta, possuiam em 2005 uma renda per capita de $ 35.690 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 6,4 hectares globais (gha). Com este padrão de consumo médio o Planeta teria a capacidade de sustentar apenas 2,1 bilhões de habitantes. Isto quer dizer que se o padrão de consumo de países como Irlanda (6,3 gha) ou Canadá (7,1 gha) fossem generalizados a Terra teria de reduzir a população em mais de 4 bilhões de pessoas. Já no caso dos Estados Unidos (EUA) a pegada ecológica era de 9,4 gha e se o “American way of life” fosse adotado pelo resto do mundo a população teria mundial teria de ser no máximo 1,4 bilhão de habitantes, correspondente apenas à população da China atual.

A tabela 1 também mostra que a renda média da população mundial é de $ 9.460 dólares internacionais e possui uma pegada ecológica de 2,7 gha. Neste nível de renda e consumo a Terra só teria condições de sustentar 5,0 bilhões de habitantes. É claro que o consumo mais elevado encontra-se entre os países ricos e as parcelas ricas da população. Mas mesmo que, numa situação hipotética, haja uma distribuição igualitária da renda e uma maior inclusão social e econômica das parcelas pobres da população, com acesso aos bens e serviços médios atuais, a situação do nível de consumo mundial atual é insustentável.

Desta forma a humanidade está diante dos seguintes desafios: a) reduzir ou modificar o padrão de consumo atual; b) investir em mudanças tecnológicas que permitam utilizar fontes renováveis de energia, maior eficiência na produção, reciclagem, aproveitamento do lixo, redução do desperdício, etc. c) reduzir a população; d) todas as alternativas juntas.

No curto prazo, a única alternativa não viável é a redução da população, pois mesmo com o declínio das taxas de fecundidade o crescimento populacional vai continuar ocorrendo devido à inercia demográfica (crescimento devido a estrutura etária jovem) e deve atingir 9 bilhões no ano de 2050. Mesmo que as taxas de fecundidade caiam de maneira mais rápida, a população mundial deve chegar a no mínimo 8 bilhões na metade do atual século.

Então as alternativas imediatas para evitar o desastre ambiental são aquelas apresentadas nos dois primeiros pontos acima, isto é, a comunidade internacional precisa modificar substancialmente a sua forma e o seu padrão de produção e consumo, quer seja pela via do decrescimento da quantidade de bens e serviços produzidos ou pela via das mudanças tecnológicas que possibilite produzir a mesma quantidade com menos insumos materiais e com mais respeito ao ambiente.

* José Eustáquio Diniz Alves, colaborador e articulista do Ecodebate, é Doutor em demografia e professor titular da ENCE/IBGE. Livro publicado: RIOS-NETO, E. MARTINE, G. ALVES, JED. (orgs) Oportunidades perdidas e desafios críticos: a dinâmica demográfica brasileira e as políticas públicas., ABEP, Campinas, 2009.

Este artigo originalmente publicado no portal Ecodebate

terça-feira, 30 de março de 2010

Água

Água poluída mata mais do que todos os tipos de violência, alerta ONU

Estudo da Unep aponta que pelo menos 1,8 bilhão de crianças com menos de cinco anos de idade morrem por ano em decorrência da má qualidade da água e da falta saneamento básico
Por Rogério Ferro, do Instituto Akatu




O mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês) faz um alerta que merece atenção e ação de todos: o consumo e o uso de água não tratada e poluída matam mais do que todas as formas de violência, incluindo as guerras. Pelo menos 1,8 bilhão de crianças com menos de cinco anos de idade morrem a cada ano em decorrência da má qualidade da água e da falta de saneamento básico. O estudo foi divulgado no dia 22 de março – Dia Mundial da Água – em Nairóbi, capital do Quênia, na África.

O documento intitulado Limpar as águas: um enfoque em soluções de qualidade da água (tradução livre) afirma que as crianças são as principais vítimas da “água doente”, representando uma morte no mundo a cada 20 segundos, por isso o alerta para a necessidade de adoção de medidas urgentes. "Se o mundo pretende... sobreviver em um planeta de seis bilhões de pessoas, caminhando para mais de nove bilhões até 2050, precisamos nos tornar mais inteligentes sobre a administração de água de esgoto", disse o diretor da Unep, Achim Steiner. "O esgoto está literalmente matando pessoas."

Segundo o estudo, a água contaminada é também um dos fatores chave para o aumento de mortes de vidas vegetais e animais em mares e oceanos de todo o mundo. São dois milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de dois bilhões de toneladas de água diariamente, causando gigantescas "zonas mortas" e sufocando recifes de corais e peixes.

“Trata-se de um dado concreto de que nós, humanos, somos diretamente prejudicados por nossas ações irresponsáveis contra o meio ambiente. Portanto, espera-se que informações como essas possam sensibilizar aquela parcela da população que ainda não se preocupa com a conservação do meio ambiente, que descartam de forma incorreta materiais perigosos para a saúde humana”, afirma Heloisa Mello, gerente de operações do Instituto Akatu. “Por outro lado, é um estímulo e incentivo para aqueles que têm essa preocupação, no sentido de que devem redobrar seus esforços, sensibilizando familiares, vizinhos e até colegas de trabalho”, completa.

Problema será maior nos próximos anos
Ainda de acordo com o relatório, as populações urbanas deverão dobrar de tamanho nas próximas quatro décadas. A projeção, portanto, é que os números subam dos atuais 3,4 bilhões para mais de 6 bilhões de pessoas. Nas grandes cidades já há carência de gestão adequada das águas residuais em decorrência do envelhecimento do sistema, de falhas na infraestrutura ou de esgoto insuficiente.

“O consumo consciente passa por exigir e pressionar as entidades competentes (governos e empresas) induzindo-as a disponibilizem estrutura necessária para que o nosso consumo cause menos impactos possíveis ao meio ambiente, à economia e à sociedade. Isso vai desde a escolha do produto que compramos, dando preferência às marcas ou empresas social e ambientalmente responsáveis, até ao acompanhamento das ações do vereador, do prefeito ou do deputado em que votamos”, propõe Mello.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Duelos verdes







O que é melhor para o planeta: beber vinho ou cerveja? Usar joias ou bijuterias? Ter filhos ou não? Aqui está um guia de sustentabilidade nos mínimos detalhes

Vanessa Nunes
Revista Superinteressante/Edição Verde – 12/2009

É MELHOR TOMAR ÁGUA EM COPO DE PLÁSTICO OU ANDAR COM UMA CANECA?
COPO
• Para suprir sua mítica necessidade diária de 2 litros de água, uma pessoa precisaria consumir 16 copinhos de 125 mililitros por dia, quase 6 mil por ano. Ainda que fabricar os copos consuma 100 litros de água, eles servirão 730 litros - 732 em anos bissextos.
• Mas a fabricação das embalagens provoca a emissão de 4,6 quilos de CO2 e outros gases responsáveis pelo aquecimento global. Só nos EUA, a fabricação, o transporte e a reciclagem de embalagens produzem gases de efeito estufa equivalentes aos de uma frota de 1,3 milhão de carros durante um ano.
• Por fim, cada copinho demora pelo menos 100 anos para se decompor.
CANECA
• Lavar uma caneca de 200 mililitros por 5 segundos gasta 500 mililitros de água.
• Logo, se os tais 2 litros por dia forem bebidos nessa caneca, será necessário lavar o copo 8 vezes, gastando quase 4 litros diários de água.
• Ao longo de um ano, essa atividade terá consumido 1 460 litros de água - 1 464 em anos bissextos.

CONCLUSÃO
Beber água em um recipiente reaproveitável causa menos danos ao planeta.
Fontes - Sabesp, Ciclo de Vida das Embalagens no Brasil, de Renata Valt (Thesaurus Editora), Beverage Marketing Corporation, Proconve.

PEÇO O SACO DE PAPEL OU LEVO MINHA ECOBAG?
ECOBAG
• As queridas dos naturebas duram 5 anos.
• Cada uma delas é capaz de eliminar até 1 000 sacolas descartáveis em sua vida útil.
• Levou-a para o supermercado 4 vezes? É o que basta para seu impacto ambiental se tornar menor que o das sacolas plásticas ou de papel em todos os indicadores.
SACO DE PAPEL
• Demora menos tempo para se decompor, mas nem por isso é menos poluente.
• Comparando com a ecobag, sua produção emite 80% mais gases de efeito estufa, gasta 3 vezes mais água e resulta em 2 vezes mais resíduos e 70% mais gases que provocam chuva ácida.
• Só nos EUA, 14 milhões de árvores são cortadas para produzir preciosas sacolas de papel.
• Esta vai doer: gasta-se 98% mais energia para reciclar sacolas de papel que as de plástico.

CONCLUSÃO
As ecobags são a alternativa mais ecologicamente correta: desde que você não acumule dezenas delas.
Fontes - Ecobilan - Évaluation des impacts environnementaux des sacs de caisse Carrefour; Institute for LifeCycle Environmental Assessment

O QUE AGRIDE MENOS O PLANETA, CERVEJA OU VINHO?
VINHO
• Um estudo da consultoria Water Footprint Network revelou que a produção de cada litro de vinho consome outros 960 litros de água, a maior parte deles gasta no cuidadoso cultivo das uvas.
• Em outras palavras, são necessários 120 litros de água para produzir cada taça de vinho. Vinhos ruins, inclusive.
• Os 22% de vinhos importados consumidos no Brasil representam muito mais emissões de CO2 com transporte do que o 1% de cerveja importada.
CERVEJA
• De acordo com um relatório apresentado na Semana Mundial da Água em agosto pela ong WWF e uma indústria cervejeira, a produção de cada litro de cerveja consome 155 litros de água - um banho no vinho.

Ou não, porque consome menos água... ah, você entendeu.
• Em lata, a cerveja é ainda mais vantajosa para o ambiente, já que o Brasil é recordista mundial de reciclagem de latas de alumínio, com um índice de 96,5%.
• A reciclagem do alumínio economiza energia elétrica: em 2007 permitiu poupar 2 300 GWh/ano, o suficiente para abastecer por um ano uma cidade de 1 milhão de habitantes, como Goiânia.

CONCLUSÃO
No Brasil, o consumo de cerveja representa menos danos.
Fontes - Sindcerv, Ibravin, Abal, Water Footprint Network, WWF

É MELHOR MORAR EM APARTAMENTO OU CASA?
APARTAMENTO
• Na teoria, prédios concentrariam atividades em menos espaço, permitindo menos deslocamentos de carros.
• Serviços urbanos, como coleta de lixo, também se beneficiam do adensamento ao deslocarem-se menos para atender moradores.
• Outra vantagem da concentração populacional é que quem mora em apartamento não gasta água lavando seus carros na calçada nem molhando seus jardins.
CASA
• Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a construção de casas promove a expansão descontrolada da mancha urbana, aumentando o percurso e o tempo de viagem entre trabalho e residência e, consequentemente, o volume de fumaça saindo do escapamento dos veículos.
CONCLUSÃO
Do ponto de vista da ocupação do solo e aproveitamento dos recursos, morar num prédio é mais sustentável. Sem carro, de preferência.
Fonte - Cetesb

DEVO COMPRAR JOIAS OU BIJUTERIAS?
JOIAS
• Fora abalar o sustento de quem compra, a obtenção de metais nobres, usados em joias, agride o planeta. Para cada tonelada de ouro, é preciso cavucar 300 mil toneladas de minério.
• Essa retirada de grandes volumes de terra e rocha pode alterar paisagens naturais e comprometer ecossistemas.
• Muitas minas utilizam o cianeto de sódio, uma substância tóxica, na separação do ouro. Assim como o mercúrio usado nos garimpos, ela pode causar acidentes ambientais.
BIJUTERIAS
• Para obter 1 tonelada de cobre, cuja liga metálica é usada em muitas bijuterias, removem-se 110 toneladas de minério - bem mais em conta.
• Após a etapa chamada de galvanoplastia - um banho metálico dado na peça -, são descartadas soluções contendo metais pesados e substâncias como ácido sulfúrico e ácido crômico. O tratamento inadequado desses resíduos pode contaminar a água usada no abastecimento e destruir ecossistemas.

CONCLUSÃO
A produção de joias tem maior impacto ambiental. E os riscos da fabricação de bijuterias podem ser reduzidos com procedimentos dentro das empresas.
Fontes - U.S. Geological Survey; Mining the Earth (Washington, DC: Worldwatch Institute)

É MAIS ECOLÓGICO USAR ROUPAS DE ALGODÃO OU DE LÃ?


• São necessários 500 mil litros de água para produzir cada tonelada de lã.
Sim, essas ovelhas bebem.
• Além de insaciáveis, os animais de onde é extraída a lã emitem grandes quantidades de metano. Estamos falando de 20 a 30 litros diários de pum de ovelhas, bezerros e carneiros, gases que contribuem 21 vezes mais para o aquecimento global que o CO2.

ALGODÃO
• A exportação de algodão asiático para a Europa é responsável por 20% do ressecamento do mar de Aral, por causa da irrigação de lavouras em países como o Uzbequistão. Se Felipão e Rivaldo estiverem usando uniformes de algodão no FC Bunyodkor, eles também são parte do problema.
• Por trás da fabricação de uma única calça jeans estão 11 mil litros de água.
• O fertilizante utilizado nas lavouras é à base de nitrogênio. Quando aplicado inadequadamente, libera óxido nitroso, um gás muito tóxico.

Conclusão
É praticamente um empate. Como couro, pele e tecidos sintéticos são igualmente agressivos à Mãe Terra, o jeito é apelar para tecidos sintéticos e, claro, brechós - quer algo mais sustentável que reciclar roupa?

FONTES Water Footprint Network

ESCOVO OS DENTES NA PIA OU NO BANHO?

NA PIA
• Se uma pessoa escova os dentes na pia por 5 minutos com a torneira aberta, gasta 12 litros de água.
• No entanto, se ela molhar a escova e fechar a torneira enquanto escova os dentes e, depois, enxaguar a boca com a água de um copo, gastará menos que 1 litro de água na escovação.

NO BANHO
• Considerando que a escovação aconteça durante um banho de chuveiro, serão consumidos 15 litros de água.
• E há o gasto desnecessário de eletricidade. Nos horários de pico, a partir das 19h30, esse desperdício significa ativar usinas termelétricas, movidas a gás natural, carvão ou diesel, e que lançam dióxido de carbono na atmosfera.

Conclusão
Escovar os dentes na pia, desde que com a torneira fechada.

FONTES Cetesb, Sabesp

POSSO TER FILHOS?

NÃO TER FILHOS
• Nos últimos 45 anos, a demanda pelos recursos do planeta dobrou. Esse aumento se deve, em boa parte, ao crescimento demográfico.
• Diante disso, há quem proponha cortar o mal pela raiz. O Movimento de Extinção Voluntária da Humanidade, por exemplo, prega que as pessoas deveriam parar de se reproduzir. Sem gente, o mundo seria um lugar muito melhor, diz o movimento, que no entanto ainda não deu início ao processo.

TER FILHOS
• Para muitos especialistas, não é o crescimento demográfico, mas o padrão de consumo que ameaça os recursos naturais. Os americanos, por exemplo, consomem 4 vezes e meia mais do que o considerado sustentável.
• No livro O Mundo sem Nós, Alan Weisman, da Universidade do Arizona, propõe que se adote a política do filho único. Desse modo, seria possível reduzir a população do mundo para 5 bilhões de pessoas até 2100.

Conclusão
Consumo não predatório é mais viável que propor a extinção da humanidade. Basta consumir menos que o planeta nos aguenta.

FONTE: World Wildlife Fund

Arquitetura Bioecológica





A Arquitetura Bioecológica - o modelo de Construção Civil com responsabilidade ambiental - segue 10 princípios básicos:

1. Minimizar o impacto ambiental das construções.

2. Promover comunidades sustentáveis.

3. Promover a saúde e o bem-estar do homem.

4. Priorizar a longevidade da construção, durabilidade e adaptabilidade.

5. Utilizar materiais de baixo impacto ambiental.

6. Promover a conservação e uso racional da água.

7. Promover a eficiência energética, o uso racional de energia e as fontes de energia renovável.

8. Minimizar a produção de resíduos e promover a reciclagem.

9. Não utilizar produtos tóxicos. Usar preferencialmente ecoprodutos.

10. Promover a educação ambiental, o consumo consciente e a preservação da cultura

Somos todos UM

domingo, 28 de março de 2010

Desmatamento Zero

“Desmatamento em SP é coisa do passado”
Para Xico Graziano, secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, a cada hectare desmatado, 110 já estão em recuperação ambiental



Ana Greghi
Planeta Sustentável 02/03/2010

Xico Graziano, secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, apresentou hoje, durante o “Café Ambiental” – encontro realizado periodicamente com representantes de entidades ambientalistas e imprensa -, o balanço dos projetos ambientais estratégicos “Desmatamento Zero” e “Mata Ciliar.

Segundo ele, o desmatamento predatório e ilegal do Estado de São Paulo já pode ser considerado coisa do passado, pois, para cada hectare desmatado, 110 já estão em recuperação ambiental. “Estamos recuperando muito mais do que suprimindo. Isso graças a forte autuação da Polícia Militar Ambiental, o empenho das ONGs e de várias entidades contra o desmatamento”, destacou Graziano.

No ano de 2009, houve redução de 30% da área desmatada (somatória da área de mata e cerrado denso autorizada e a área autuada pela Polícia Militar Ambiental), passando de 4.742,81 hectares, em 2008, para 3.205,7 hectares, no ano passado.

Em relação à área de vegetação autorizada para supressão, em 2009 foram eliminados 1.813 hectares de vegetação, ou seja, 31% a menos do que no ano anterior (2636 hectares) A maioria das autorizações de supressão em 2009, ao contrário do que se imaginava, foi para atividades de obras lineares, como dutos e fiações – 551 hectares, seguido pela agropecuária – 483 hectares.

As autuações da Polícia Militar Ambiental para corte ilegal de vegetação também foram reduzidas. Em 2008, foram registradas 4.527 autuações, enquanto que em 2009 o número caiu para 3.109. Outra boa notícia dada por Graziano refere-se ao aumento da área de mata ciliar em recuperação no Estado, que aumentou em 127.600 hectares, desde 2008.

O objetivo do “Café Ambiental” é o de aproximar a Secretaria Estadual do Meio Ambiente* das entidades que defendem a preservação do meio ambiente. Até o fim deste mês, os números divulgados devem ser entregues ao Ministério do Meio Ambiente.

* Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SMA

Lixograma

Nos menores frascos estão os piores produtos
Por Erich Burger - Planeta Sustentável

Minha gente, pra que tudo isso? Ou melhor, pra que tão pouco.

É fato que a sustentabilidade está na oitava prateleira de prioridades das empresas.
Mesmo aquelas que se dizem ou se mostram engajadas, possuem uma enorme dificuldade de tratar o assunto pelo viés do desenvolvimento e das vantagens competitivas que isso pode trazer em um mercado em transformação, orientado por valores socioambientais e com um cenário de normas e legislações em mudança, que inevitavelmente regulamentarão as atividades empresariais com foco no controle do impacto ambiental.

Mesmo diante de tudo isso, ainda vemos coisas totalmente fora do conceito, como o caso retratado na fotografia desse post. Diretamente de Miami para o Brasil, foi remetido este diminuto frasco do maravilhoso molho de pimenta Tabasco. O exemplar apresenta altura de 5,8 cm e 3,7ml de produto, suficientes para condimentar cerca de uma única coxinha, isso se você for uma pessoa econômica.

Totalmente na contramão da realidade ambiental, o fabricante joga no mercado milhares de frascos como esse que possuem uma característica de descarte praticamente imediata. Além disso, esse tipo de embalagem minúscula e de pouco conteúdo, significa muito mais embalagem por mililitro de produto e consequentemente mais lixo, energia e água, desperdiçados no processo produtivo.

Por isso a necessidade urgente da logística reversa e bons mecanismos de controle, pois a obrigatoriedade por parte dos fabricantes em recuperar e destinar adequadamente essas embalagens, certamente os farão pensar duas vezes.

Por quê então a empresa adota um produto com essas características? Simplesmente pelo fato de que esta acredita que o retorno de marketing da distribuição desse tipo de “brinde” é maior do que poderia ser obtido com um posicionamento voltado para a sustentabilidade.

Precisamos então mostrar que eles estão errados. Se continuarmos comprando produtos com essas características, estaremos corroborando a tese do marketing contra sustentabilidade.

É aí que entra o slogan do Instituto Akatu, que diz: “Seu consumo muda o mundo”. Da mesma forma eu digo que o seu consumo faz o mundo, do jeito que ele está.

Demonstre o seu posicionamento, pratique o consumo consciente e recuse produtos com excesso de embalagem. Vamos, a partir do nosso consumo, forçar empresas a exercitarem o marketing de fora para dentro, considerando as aspirações e os desejos do novo consumidor.

“Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

Erich Burger Netto
@recicleiros

sexta-feira, 26 de março de 2010

Espanha inaugura usina movida inteiramente a energia solar

Luz solar é refletida por 900 espelhos que se movimentam como girassóis.
Tecnologia poderia ser aplicada no nordeste brasileiro, dizem espanhóis.

Fonte: http://g1.globo.com


Um projeto gigante, que gera tanto eletricidade quanto resultados positivos para o meio ambiente, foi inaugurado no sul da Espanha: a primeira usina do mundo movida inteiramente pela energia do Sol.

No meio do terreno árido da região, a usina se destaca pela magnitude e imponência. Do chão brotam os raios que convergem no topo da torre de 160 metros, mais alta que um prédio de 50 andares. É radiação solar em estado puro, concentrada em um único ponto. Calor natural que aquece a água que corre para dentro da torre até virar vapor a 400ºC, para mover as turbinas que produzem energia elétrica sem poluir o meio ambiente.

Novecentos espelhos gigantes se movem lentamente como girassóis. Nem dá para perceber a mudança de posição, mas eles estão sempre alinhados com o Sol para refletir o máximo de luz, direto para a torre de captação. É a maior usina solar com produção de energia em escala comercial do mundo. Daqui sai eletricidade para abastecer 180 mil casas, uma cidade do tamanho de Sevilha, que fica a 30km.

A construção ocupa uma área do tamanho de 60 campos de futebol. E custou o equivalente a meio bilhão de reais. Cada centavo saiu da iniciativa privada, um consórcio de empresas espanholas que planeja recuperar o investimento em apenas dois anos.

“Trocamos o gás, o carvão e o petróleo pelo Sol, que brilha 240 dias por ano na região sul da Espanha. E é de graça”, diz o engenheiro responsável pela produção de energia.

A segunda usina, ainda maior, já está em construção. Outras sete completarão o projeto da plataforma solar de Sevilha até 2014. O plano é fornecer eletricidade para todo o sul da Espanha. E o melhor de tudo: evitar que sejam despejadas 600 mil toneladas de dióxido de carbono por ano na atmosfera.

“É um tecnologia que pode servir a sociedade, em qualquer parte do planeta”, diz o engenheiro. “Inclusive no nordeste do Brasil, onde o que não falta é Sol”. Trata-se da fonte de energia mais antiga do mundo, mas ainda considerada por muita gente um negócio do futuro. Não na Espanha, onde já é, claramente, um sucesso.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Participe da Hora do Planeta 2010‏


A Hora do Planeta é uma campanha mundial da rede WWF. Queremos mobilizar 1 bilhão de pessoas em todo o planeta. Vamos mostrar aos líderes dos governos e a toda a sociedade que é hora de combater as causas do aquecimento global. A Hora do Planeta é o maior movimento da História em defesa do meio ambiente. Você não pode ficar de fora!

Novo programa da Philips deve destinar 200t de eletroeletrônicos para a reciclagem em 2010

Revista Sustentável
Escrito por Fernanda Dalla Costa — Publicado em 17/03/2010

A fabricante holandesa de eletroeletrônicos, Philips, pretende recolher e destinar para desmontagem 200 toneladas de produtos eletrônicos inservíveis da marca em 2010, disse Marcos Bicudo, presidente da filial da empresa no Brasil durante o lançamento do programa Ciclo Sustentável.

"Sustentabilidade é um dever de todos e é hora de convergir, governos, iniciativa privada, terceiro setor e academia", disse Bicudo.

O recolhimento do material será realizado pela rede tercerizada da empresa, com a ajuda de 40 assistências técnicas autorizadas localizadas em 25 grandes centros urbanos brasileiros.

A empresa conta com uma rede nacional 100 assitências técnicas. O programa não inclui pilhas nem lâmpadas.

Pelo programa, as oficinas destinarão material para a empresa de reiclagem de Paulínia, no interior paulista, Oxyl, que desmontará os equipamentos e venderá as peças a seu critério para outras empresas que fazem a recuperação dos materiais.

Segundo a estimativa da Philipa, 90% de todos os materiais podem voltar à cadeia produtiva de outras empresas que utilizam os metais que compõe os produtos eletrônicos.

O programa também conta com a opção de retirada na residência do cliente, desde que seja em uma dessas 25 cidades e com um valor que pode chegar a até R$ 40,00.

"Esse programa é a materialização dos valores da Philips, não podemos promover a saúde e o bem-estar para as pessoas sem levar em conta o final do ciclo", disse Márcio Silva, gerente de serviços de cuidado do consumidor.

Segundo Silva, o planejamento do projeto começou em 2008 e o primeiro piloto foi executado em Manaus, onde de janeiro de 2009 até janeiro de 2010, 4,5 toneladas de materiais foram coletados.

A empresa também desenvolveu um projeto piloto com assistências técnicas paulistas, onde de outubro de 2009 a março de 2010 conseguiu coletar 12 toneladas de materiais.

A Philips não divulgou o investimento no projeto e nem detalhes do acorod com a Oxyl. O programa incluirá todos os eletroeletrõnicos e eletroportáteis das marcas Philips e Walita.

A empresa disse que o sucesso do programa depende da consciência e da vontade de colaborar dos consumidores, pois não prevê campanha de informação - além da informação no site da empresa - e nem as embalagens e embalagens conterâo a informação.

No entanto, a empresa disponibilizará seu Centro de Informação ao Consumidor (CIC), e seu site para informá-los sobre a possibilidade da reciclagem.

Segundo Silva, somente nas ligações ao CIC onde o atendente identificar que a vida útil do aparelho chegou ao fim é que a opção de envio à reciclagem será oferecida ao cliente.

A iniciativa, no entanto, recebeu apoio do Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc que enxerga nela uma oportunidade de aprofundar a relação entre governo e iniciativa para conscientizar os cidadãos e está alinhada com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Lixo: aterros podem ser exigidos por lei

BANCO DO PLANETA

Um ótimo começo para um Brasil mais limpo é separar o lixo orgânico do seco. Isso facilita o acesso aos materiais recicláveis por quem os reaproveita. Essa atitude pode ser difícil de se adquirir no começo, mas depois se torna tão habitual quanto lavar a louça de cada refeição.

O Brasil está engajado em se tornar mais eficaz ao lidar com os resíduos.

Consciente dos riscos de saúde e ecológicos causados pelos lixões, o país quer tornar os aterros sanitários obrigatórios e também proibir a queima de lixo a céu aberto. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que está em análise para votação no Congresso Nacional, prevê essa e outras medidas para darmos um melhor destino aos materiais descartados das residências.

Quem quer investir em reciclagem precisa desta Lei e de suas normas regulamentadas o quanto antes, para conduzir bem seus negócios. Enquanto a Lei não vem, cada um pode fazer a sua parte. Confira:


Ache outros vídeos como este em Banco do Planeta

Novo parque tecnológico de S.Carlos visa a sustentabilidade

REVISTA SUSTENTABILIDADE

Escrito por Alexandre Spatuzza — Publicado em 22/03/2010

Foi lançado em São Carlos, com 70% do espaço vendido, o Eco Parque Tecnológico que não só abrigará empresas tecnológicas de baixo impacto ambiental, mas também adotará tecnologias de construção que reduzam o uso de recursos naturais e energia das unidades fabris.

"Todas as candidatas terão que passar por uma avaliação de desempenho que no futuro incluirá medição de pegada de carbono", disse José Octávio Paschoal, presidente do Instituto Inova que gerenciará o parque. "No final, o enfrentamento das questões ambientais só vai dar mais competitividade às empresas instaladas."

O empreendimento, estimado em R$28 milhões, será o segundo parque tecnológico da cidade que se auto-entitulada Capital da Tecnologia por causa da presença da Universidade Federal de São Carlos, do campus da USP, da Unesp e da Embrapa.

O novo parque de 400 mil metros quadrados já está pré-aprovado no sistema paulista de parques tecnológicos.

"É a vocação da cidade", disse o prefeito Oswaldo Barba (PT) que concluiu um projeto desenhado desde 2006 pelo seu antecessor.

A articulação entre a prefeitura, o governo do estado e o governo federal permitiu que o projeto fosse montado com um centro de pesquisa tecnológica para a saúde de R$12 milhões, o Citesc que será financiado pelo governo federal, uma incubadora com espaço para 54 empresas e um laboratório que certificará e testará a viabilidade dos produtos dos membros do parque e incubadas e tecnologias de energias renováveis e rejeitos .

Das empresas que já compraram ou reservaram 70% dos 143 lotes no local, um número significativo são empresas locais, muitas das quais oriundas dos laboratórios das universidades na cidade, disse Paschoal.

O parque vai mais do que triplicar a capacidade de incubação do Instituto Inova, atualmente em 16 empresas, e vai aumentar as chances de fechar o ciclo de geração de novas empresas de base tecnológica.

As empresas que devem se instalar no parque virão, segundo o executivo, dos setores de equipamentos de saúde, tecnologia da informação (TI), novos materiais contendo nanotecnologia, biotecnologia e energias renováveis.

Para Paulo Almeida, diretor da Agência de Inovação da Ufscar, o parque vai ser mais um incentivo à inovação para os 4.000 doutorando e mestrandos e para os 900 pesquisadores professores da instituição.

"Estamos num momento de transição entre uma boa produção científica e técnica e a cultura da inovação", disse. "O parque vai ajudar a estimular isso ainda mais."

Para ele investimento público parafomentar a inovação dá um retorno importante para a economia local. Segundo ele, de cada R$1 investido para encubar empresas, geram R$4 em impostos devido ao crescimento da atividade econômica.

URBANIZÇÃO

Para a incorporadora paulistana Damha, o parque é a consolidação de um projeto que transformou uma antiga fazenda de gado de 12 milhões de metros quadrados em um projeto residencial e comercial.

Deixando uma área de 3,6 milhões de metros quadrados como área verde, o projeto inteiro inclui quatro condomínios residenciais, haras e campo de golf.

Na área industrial, os projetos arquitetônicos devem prever uso de energia solar, iluminação LED (diodos emissores de luz), ventilação natural, coleta e reuso da água da chuva, permeabilização do solo e gerenciamento de resíduos.

"Estamos em conversação para adotar um sistema de certificação de construção," disse Paschoal.

As obras começam este ano e devem permitir a instalação das primeiras empresas pelo fim do primeiro semestre de 2011.

O lixo e o Fator 10

Eduardo Athayde
Diretor da UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica e do WWI - Worldwatch Institute no Brasil

Esforços internacionais convocam governos, empresas e sociedade civil para adotar o “Fator 10”, isto é, aumentar em 10 vezes a eco-eficiência no processo produtivo nos próximos 30 anos, buscando um desenvolvimento que promova o progresso das gerações presentes, mas que também garanta o das gerações futuras.

Em 1900 havia 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Hoje existem seis bilhões. A “pegada ecológica” conceito surgido na década passada, fornece uma medida aproximada do impacto que a produção e o consumo de materiais, de alimentos, de combustíveis, etc., está tendo sobre o ambiente, mostrando a dimensão das armadilhas criadas pela civilização moderna para si mesma.

A economia do “jogar fora” está começando a dar sinais de transformação. A Bahia que recicla 21% do seu lixo, ainda tem mais de 90% das suas cidades sem esgotamento sanitário. Os esgotos são levados para as fossas ou despejados nas águas dos rios que abastecem campos e as cidades. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, 80% de todas as doenças nos países em desenvolvimento advêm do consumo de água contaminada.

O conceito da minimização de resíduos, antes da reciclagem, pode ser incluído nas políticas de compras públicas nos três níveis: federal, estadual e municipal, estimulando o mercado nesta direção. Mecanismos sintonizados com o “Fator 10”, se introduzidos na Lei das licitações, induzirão à aquisição de produtos eco-eficientes pelos governos. Fica a sugestão para os congressistas eleitos e para os reeleitos.

Dados curiosos demonstram o estrago que, inadvertidamente, estamos causando ao Planeta. John Young, pesquisador da organização não-governamental Worldwatch Institute - WWI, calculou que para criar um simples par de alianças de ouro, são processados materiais equivalentes a um buraco de três metros de comprimento, por um e meio de largura e um e meio de profundidade. Tivemos duas grandes revoluções em termos de mudanças nas atividades econômicas, afirmou o cientista Lester Brown, fundador do WWI, em entrevista nas páginas amarelas da Veja. “A primeira foi a revolução agrícola, há dez mil anos. A segunda foi a industrial, que começou há dois séculos.

Estamos agora diante de outra grande reestruturação, que chamamos de revolução ambiental. A diferença é que uma durou muitos milênios e a outra, dois séculos. A revolução ambiental precisará acontecer em poucas décadas se quiser resultados”. Cerca de 150 mil brasileiros hoje vivem da coleta de latas de alumínio e geram uma renda que varia de R$ 200 a 600/mês. 45 latas de alumínio podem ser trocadas por um quilo de feijão e 35 por um quilo de arroz.

Cerca de 65% das latas de alumínio e 21% dos vasilhames de refrigerante (Pets) são reciclados no Brasil, o resto, com o nome one way (via única), não voltam para as fábricas. Ficam nas praias, ruas e rios; são parte do velho paradigma econômico do “jogar fora”.

A econologia - visão socioeconômico-ecológica integrada - ajuda na montagem da nova equação. O “Fator 10” é um aliado do programa “Fome Zero”, prioridade do governo eleito. Pode ajudar na redução da fome e ir além, gerando o lucro social, econômico e ecológico, integrados.

A poluição atmosférica mata três vezes mais que o trânsito. Pequenas partículas com dez micrômetros de diâmetro (1/2.400 de uma polegada) ou menores, podem se alojar nas alveólas do pulmão, como afirma o cientista Bernie Fischlowitz-Roberts, pesquisador do Earth Policy Institute - EPI. Na província canadense de Ontário a poluição atmosférica custa aos contribuintes cerca US$ 1 bi/ano em hospitalizações, emergências e ausências ao trabalho.

Quanto será que custa a poluição do ar, da terra e da água, aos cofres públicos aqui? A River Rouge, fábrica da Ford em Michigan, considerada um emblema da Segunda Revolução Industrial há 70 anos, foi modernizada. A Ford investiu US$ 2 bilhões na sua reforma transformando o telhado de 4 ha num “teto vivo”, uma área plantada que baixa o custo de refrigeração do ambiente interno, enquanto clarabóias inundam a fábrica de luz natural. Os economistas e engenheiros gostaram das mudanças tanto quanto os ecologistas.

Deram os primeiros passos. “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao tamanho original”, lembrava Einstein.

Como a River Rouge, os carros que hoje poluem, poderão no futuro próximo ser modernizados, substituídos por veículos F-10 (Fator 10), movidos a combustíveis limpos, eco-eficientes, levando as montadoras a usar a imagem dos seus presidentes, nas telas da TV, para mostrar os seus investimentos na melhoria da qualidade de vida da população, com a redução do nível de poluição na atmosfera urbana.

Cada cidadão é parte ativa neste processo, o consumo sustentável pede a sua atenção e o seu voto. O papel de um jornal pode ser mais um item no seu lixo do dia, ou, pode entrar no “Fator 10” da sua casa ou trabalho. Este é um dos muitos recicláveis com os quais temos contato no dia-a-dia, materiais que podem gerar negócios - emprego e renda - ajudando a reduzir a fome, a manter o Hospital do Câncer ou tantos outros à sua escolha. O poder do voto só é lembrado quando somos convocados compulsoriamente para eleições, de dois em dois anos. Voto é exercício da vontade, continua válido todos os dias. A livre escolha é nossa.

domingo, 21 de março de 2010

Algumas Informações sobre Disposição de Pilhas e Baterias

O Brasil produz cerca de 800 milhões de pilhas comuns por ano, o que representa seis unidades descartadas por habitante.

Trata-se de um assunto muito delicado e pouco discutido. A produção brasileira está passando por uma intensa fase de transformação. Essas mudanças estão relacionadas com as tendências atuais de crescente urbanização, aceleração na comunicação e reestruturação das empresas cada vez mais preocupadas em maximizar a competitividade comercial. O mais notável desse processo tem sido as mudanças ocorridas em relação à descentralização das atividades industriais.

As indústrias mais antigas, que continuam contribuindo com a maior parcela da carga poluidora gerada e elevado risco de acidentes ambientais sendo, portanto, necessário altos investimentos de controle ambiental e custos de despoluição para controlar a emissão de poluentes, do lançamento de efluentes e do depósito irregular. As indústrias tradicionalmente responsáveis pela maior produção de resíduos perigosos são as metalúrgicas, as indústrias de equipamentos eletro-eletrônicos, as fundições, a indústria química e a indústria de couro e borracha. O lançamento dos resíduos industriais perigosos em lixões, nas margens das estradas ou em terrenos baldios o que compromete a qualidade ambiental e de vida da população.

O Brasil produz cerca de 800 milhões de pilhas comuns por ano, o que representa seis unidades por habitante. Energia que circula no Brasil:

•10 milhões de baterias de celular.
•12 mihões de baterias automotivas.
•200 mil baterias industriais.

Dependendo do material pilhas e baterias podem ou não serem jogadas em lixo doméstico. Há 3 tipos de baterias: as que têm chumbo-ácido, níquel-cádmio e óxido de mércurio, são estas que devem ser recolhidas pelas lojas que as comercializam. As de chumbo-ácido são usadas em processos industriais (são grandes baterias) e nos automóveis (ventiladas). Há ainda modelos de câmeras filmadoras que utilizam bateria selada com esse componente, além de aparelhos elétricos, de telefonia, geradores e luzes de emergência. As que contém níquel-cádmio também são usadas em processos industriais e foram empregadas nos primeiros modelos de telefone celular. Hoje são ultrapassadas, mas telefones sem fio ainda as utilizam.

As pilhas secas: zinco-manganês e alcalina-manganês, as mais consumidas para uso doméstico, seus fabricantes: Duracell, Eveready, Kodak, Microlite (Rayovac), Panasonic e Philips, têm operado nos limites estabelecidos pelo artigo 6º da Resolução 257. Podem ir ao lixo doméstico, além desses tipos de pilhas, estão as baterias de níquel-metal-hidreto, de lítio tipo botão e miniatura, lítio-íon e zinco-ar. "O próprio avanço da tecnologia, de conseguir baixar os índices de mércurio, desestimulou iniciativas consistentes de reciclagem de pilhas", como afirma José Arnaldo Gomes, da Dirtoria de Controle Ambiental da CETESB. No Brasil uma empresa chamada SUZAQUIM anuncia que detém um processo para reciclagem de baterias de Ni-Cd. Na Escola Politécnica desenvolve-se estudos há mais de 3 anos sobre reciclagem de pilhas e baterias.

No Brasil, a cada ano são desperdiçados R$ 4,6 bilhões porque não se recicla tudo o que poderia. A cidade de São Paulo produz mais de 12.000 toneladas de lixo por dia, com este lixo, em uma semana dá para encher um estádio para 80.000 pessoas. Deve-se lembrar que uma só a pilha contamina o solo durante 50 anos. As pilhas incorporam metais pesados tóxicos.

Fonte: Ambiente Brasil

Carrefour elimina uso de sacolas plásticas até 2014

Parceiro do Ministério do Meio Ambiente com a campanha Saco é um Saco, o Carrefour lançou no dia 15/3), dia mundial do consumidor, em Piracicaba (SP), a primeira loja do Brasil a eliminar o uso sacos plásticos tradicionais. Para substituir, disponibiliza aos cliente caixas de papelão, sacos reutilizáveis e sacolas biodegradáveis. A iniciativa será implantada em todas as lojas da rede, gradativamente, nos proximos 4 anos.

Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que participou da cerimônia em Piracicaba, “esse tipo de ação só é possível porque o consumidor brasileiro está cada vez mais consciente sobre os danos que as sacolas plásticas causam ao meio ambiente”.

Ele anunciou que desde o início da campanha Saco é um Saco, em 5 de junho de 2009, dia mundial do meio ambiente, o brasileiro deixou de utilizar de 600 milhões a 800 milhões de sacolas plásticas.

O Brasil utiliza cerca de 12 bilhões de sacolas plásticas tradicionais por ano, segundo estimativa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). “Isso mostra o consumo consciente como instrumento de transformação da sociedade”, ressaltou Minc, ao afirmar que esse tipo de mudança é reflexo da conscientização da empresa e dos consumidores. No entanto, “isso não acontece do dia para noite”.

Minc ainda acredita que haverá uma “imitação saudável” da iniciativa, que deverá ser copiada por outras redes de supermercados. O banimento de sacolinhas plásticas já acontece em vários países, como França e Bélgica.

Para o diretor-superintendente do grupo Carrefour Brasil, Jean-Marc Pueyo, “a eliminação das sacolas plásticas é uma ação decisiva do Carrefour para o meio ambiente”.

A iniciativa é um desdobramento da campanha Saco é um Saco. Para estimular os clientes, o supermercado de Piracicaba vai disponibilizar sacolas retornáveis até o dia 31 de março, além de oferecer caixas.

Para dar alternativa ao consumidor, o Carrefour também vai vender sacolas biodegradáveis em 180 dias. As sacolas tradicionais levam 400 anos para sair do meio ambiente. A renda da venda dessas sacolas biodegradáveis será revertida para o Lar dos Velhinhos.

Os cliente também poderão utilizar caixas de papelão para carregar suas compras. Elas foram colocadas atrás dos caixas para facilitar o uso pelos consumidores.

Como resultado da parceria com o MMA, o Carrefour reduziu o uso de sacolas plásticas em 27 % e vendeu mais de cinco mil sacolas retornáveis. Além disso, a unidade de Piracicaba também coletou 40 toneladas de lixo orgânico, que virou adubo.

Para Minc, a indústria não vai perder mercado se começar a se adaptar à mudança do pensamento do consumidor, que está cada vez mais consciente dos cuidados que deve ter com o meio ambiente para melhorar a qualidade de vida.

O ministro finalizou destacando a necessidade da reutilizar, reaproveitar e reciclar os materiais no lugar de descartar. “Somos a sociedade do descartável. Parece que o meio ambiente é um grande lixo”.

Curitiba - Na Vanguarda da Educação Ambiental

Sentados em cadeiras e carteiras garimpadas em meio ao lixo, a platéia de crianças ouve atentamente a aula de educação ambiental que a professora vai ministrando, tendo um quadro negro, também resgatado do lixão, como pano de fundo. Estas aulas destinam-se, freqüentemente, aos alunos dos mais diversos graus de escolaridade e têm como palco uma sala especialmente preparada na Usina de Valorização de Rejeitos, situada na Fazenda Solidariedade. É talvez um dos lados mais originais do programa de coleta seletiva de Curitiba, capital paranaense, e dá um bom indício de como a questão é levada a sério nesta cidade, conhecida pelos projetos inovadores e pela qualidade de vida de seus habitantes.

O programa de coleta seletiva de Curitiba já existe há 11 anos e atinge praticamente 100% da cidade sendo conhecido como "O Lixo que Não é Lixo". A coleta acontece de três formas diferentes: pela prefeitura, com sua frota de caminhões verdes; pelos coletores de material reciclável que integram a Cooperativa dos Coletores de Material Reciclável (Recopere) e ainda a Coleta Especial de Resíduos que cuida do lixo mais perigoso, como pilhas, lâmpadas, embalagens de remédios e de produtos químicos.

A face mais criativa do sistema ambiental da cidade é, sem dúvida, a Usina de Valorização de Rejeitos, situada em Campo Magro, município da Grande Curitiba, dentro da Fazenda Solidariedade. Ali o lixo é separado e preparado para a reciclagem. O papel é encaminhado às indústrias papeleiras, o ferro é levado para siderúrgicas, o vidro transparente vai para as cristaleiras, o vidro colorido para as fábricas de garrafas e artefatos deste material, o alumínio para as indústrias de metais não-ferrosos e as garrafas plásticas seguem para diferentes indústrias de reprocessamento.

Com este projeto o governo municipal conseguiu vários resultados. Um deles, a geração de empregos, com funcionários em dois turnos tocando a usina 14 horas por dia. Outro aspecto é o da economia de recursos, uma vez que a usina propicia novos produtos do que foi descartado pela sociedade. Há também os dividendos com a venda do material e por fim o aspecto mais importante, a educação ambiental. Quem trabalha na usina e quem visita o local aprende, na prática, a preservar o meio ambiente, porque percebe a importância da limpeza, da organização e da reciclagem. E todas as dúvidas são esclarecidas por uma educadora ambiental que recebe e orienta os visitantes.

Parcerias também são frequentemente adotadas como forma de contribuição para a melhoria do sistema de coleta seletiva da cidade. Melhoria, aliás, é algo para onde a população curitibana está sempre com os olhos voltados, afinal, é impossível manter-se o tão almejado padrão de qualidade de vida que tanto se orgulham, sem levar em consideração a questão ambiental.

Fonte: Ambiente Brasil

quarta-feira, 10 de março de 2010

Jaime Lerner: cidades são soluções, não problemas

Neste primeiro dia da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, em Curitiba, o arquiteto Jaime Lerner, conselheiro do Planeta Sustentável, encantou a platéia com suas ideias. Apontando para medidas que se enquadram em duas perspectivas – planejamento a longo prazo e acupuntura urbana – ele focou em soluções para o transporte urbano

Daniela Silva - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 10/03/2010

Acompanhe cobertura da CICI2010 pelo Twitter do Planeta Sustentável: @psustentavel

A CICI2010 – Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, sobre a qual já falamos, aqui, no Planeta Sustentável – sugere práticas e reflexões que colocam as cidades no centro dos processos de inovação em prol do desenvolvimento, da integração social e da sustentabilidade. No seu primeiro dia, a CICI2010 refletiu sobre temas como a retomada do protagonismo das cidades no mundo contemporâneo, o papel das empresas e das universidades na inovação, modelos de educação voltados para o novo e o lugar da tecnologia em todas essas medidas.

No fim do dia, as atenções se voltaram para a palestra de Jaime Lerner, conselheiro do Planeta Sustentável, que falou sobre suas realizações enquanto arquiteto, urbanista e gestor público, com um mote contundente: "cidades não são problemas, são soluções".

A prática de cobrir o solo de concreto, o crescimento desordenado, a intensa verticalização das moradias, a falta de solução para o transporte – todos esses problemas, que tanto sacrificam o meio ambiente e a sociedade, são tratados frequentemente como características intrínsecas à vida nas cidades. Em sua fala, Lerner retomou a importância dessa forma de organização social. Sem deixar de considerar graves questões, que pedem soluções urgentes para a vida na urbes – como, por exemplo, o fato de que 75% das emissões de carbono se originam nas cidades –, Lerner apontou medidas que se enquadram em duas perspectivas: a do planejamento a longo prazo e a da acupuntura urbana (assista ao vídeo sobre esse tema indicado no final deste texto). A adoção de sugestões como essas, e principalmente a transformação conceitual que elas representam na forma de gerir e vivenciar o espaço público, reposicionam as cidades, tirando-as do papel de "problema" e promovendo-as como focos de ação e solução em prol da sustentabilidade.

Boa parte do depoimento de Lerner teve foco em soluções de transporte urbano. Várias novas ideias foram mencionadas, como formas de modificar a maneira como as pessoas se locomovem nas cidades onde vivem. Lerner afirmou que, apesar de as pessoas pensarem sempre no metrô como grande solução para os problemas de transporte em grandes cidades, uma política de transporte público não pode privilegiar apenas um ou outro veículo. Entre as menções do brilhante arquiteto, ônibus inteligentes, metrô de superfície e subterrâneo (integrados por mezaninos que ligam os níveis das cidades, boulevards ou passeios públicos), e mesmo o carro, com um uso muito diferenciado daquele se faz dele hoje. Ele mostrou o protótipo do dock car (leia também as reportagens indicadas no final deste texto sobre este modelo), um pequeno veículo que ocupa um sexto do tamanho de um carro de passeio – carrega a mesma única pessoa, como (infelizmente) a maioria dos carros de passeio em trânsito, mas é mais eficiente, polui menos e ocupa muito menos espaço nas vias.

Lerner defendeu que a cidade sustentável é aquela que se adequa a uma série de diferentes princípios. Só green buildings não são suficientes, já que o percurso entre eles tem que se dar em uma cidade verde. Encontrar novas formas de energia também é essencial. Principalmente, reutilizar recursos e gastar menos são tarefas a serem aprendidas por todos, e desempenhadas no micro para fazer a diferença no macro. Para mostrar como desempenhar esse tipo de mudança cotidiana, Lerner lembrou do trabalho feito na cidade de Curitiba, onde foram as crianças, estudantes de escolas públicas e privadas da região, que primeiro aprenderam e depois ensinaram seus pais a separar o lixo. Hoje, a cidade já tem coleta seletiva há 20 anos, e entre 60 e 70% dos curitibanos praticam a separação, que é importante para reduzir em até dois terços a produção de lixo no espaço urbano.

"Inovar é começar", afirmou Lerner. Para dissolver a insegurança de empreender transformações, e mesmo a heterogeneidade do ambiente político, a solução apontada por Lerner é a de empreender pequenos projetos, que se refletem em grandes transformações na vida das cidades, mesmo enquanto ainda se prepara ou se executa um planejamento mais complexo e de longo prazo – o que chama de acupuntura urbana, ações pontuais e rápidas que criam uma nova energia para a urbes, e assim acabam ajudando no processo de planejamento. "Ideias simples trazem mais inovação do que projetos grandiosos", concluiu o urbanista.

Supermercados ecoeficientes procuram disseminar práticas de consumo consciente

Conceito de loja verde vai muito além de prédios que economizam água ou energia
Por Rogério Ferro, do Instituto Akatu


Uma construção cujos impactos negativos sobre a natureza são minimizados, que use material proveniente de cadeias produtivas limpas e, sempre que possível, reciclado, além de possuir sistemas de uso racional de água e de otimização no consumo de energia proveniente de fontes renováveis. Esses são os principais critérios que precisam ser atendidos para que um edifício seja considerado ambientalmente correto, causando o menor impacto possível durante sua construção e seu uso.

No entanto, para uma loja de varejo, cumprir essas exigências é apenas a primeira de uma série de ações que podem contribuir para a preservação ambiental e para o desenvolvimento social. No Brasil, iniciativas que vão além da estrutura física dos prédios começam a ser incorporadas pelos grandes grupos de varejo, transformando as lojas verdes em lugares de disseminação de conceitos e práticas do consumo consciente.

“Por serem locais em que as tomadas de decisões de consumo se dão de forma mais direta e imediata, os pontos de varejo têm possibilidades enormes na formação da consciência do consumidor para os problemas ambientais derivados dos padrões de consumo que temos hoje”, defende Aron Belinky, consultor do Akatu e especialista em responsabilidade social, sustentabilidade e consumo sustentável.

Em junho de 2008, o Grupo Pão de Açúcar inaugurou, na cidade paulista de Indaiatuba, a primeira loja verde do Brasil. Além das características que permitem, por exemplo, menor gasto de água e energia, há iniciativas como uma seção de produtos orgânicos 50% maior do que existe habitualmente em lojas convencionais e um bicicletário para clientes e funcionários. O Walmart conta com duas lojas ecoeficientes — uma no Rio de Janeiro, outra em São Paulo — com mais de 60 itens que as diferenciam das lojas comuns, como maior economia de água e de energia e programas de gestão de resíduos sólidos. De acordo com rede, os novos hipermercados das bandeiras Walmart, Big, Bom Preço e Supercenter seguirão o modelo ecoeficiente.

Para as redes varejistas, o conceito de loja verde traz implícita a necessidade de ações de incentivo às práticas de consumo consciente e de sustentabilidade. “O que buscamos é um padrão que atenda a complexidade do conceito de sustentabilidade e não simplesmente a certificação do edifício como loja verde”, afirma Hugo Bethlem, vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar.

Essa intenção se reflete no comportamento de consumidores, caso da dentista Maria Estela, cliente da loja ecoeficiente do Walmart no bairro paulistano do Morumbi. Depois que descobriu a Estação de Reciclagem da loja, ela dirige pouco mais de 2 km, duas a três vezes por semana, para depositar lá o material reciclável que separa em casa. “Como moro em apartamento não muito espaçoso, era difícil separar lixo para reciclagem. Agora, essa loja é praticamente uma extensão da minha casa”, conta. O analista de sistemas Douglas Xavier, que mora mais próximo, aproveita duplamente a viagem: “venho a pé depositar o lixo e volto para casa correndo para manter a forma.”

Recicláveis nem saem da loja
Os pontos de recolha de material reciclável são a iniciativa mais comum de incentivo e auxílio aos consumidores para a prática do descarte correto dos resíduos. Nesses pontos, é possível descartar materiais feitos de plástico, papel, vidro e alumínio. Em geral, as embalagens constituem a maioria dos resíduos gerados no cotidiano doméstico. Por isso, começam a aparecer soluções que livram o consumidor brasileiro de verdadeiras gincanas para o acondicionamento de lixo dentro de casa.

A mais nova iniciativa propõe a reciclagem pré-consumo dentro das lojas. Na prática, o consumidor tem a possibilidade de descartar ainda no supermercado as embalagens desnecessárias, diminuindo significativamente o volume dos resíduos gerados dentro de casa.

No Grupo Pão de Açúcar, o programa foi lançado em março de 2008 e hoje está presente em 21 lojas. “Essa inovação auxilia a rentabilidade da indústria de reciclagem, porque ela recebe o material em condições ótimas de higiene e conservação, o que às vezes não acontece quando o material vem de casa”, afirma Hugo Bethlem. “São mais de 30 mil toneladas de resíduos que, desse modo, recebem a destinação correta, beneficiando as cooperativas de catadores”, contabiliza. “O mais importante, porém, é a conscientização das pessoas para o devido descarte de materiais recicláveis, poupando os aterros sanitários desse material.”

Na rede Carrefour, o programa de reciclagem pré-consumo da rede, aplicado somente na unidade de Piracicaba, interior de São Paulo, ajudou a elevar significativamente o volume do material recolhido, que hoje é de 3200 kg mensais. “Sempre buscamos fazer das nossas lojas agentes de promoção do consumo consciente”, explica Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour.

Menos sacos plásticos, mais sacolas retornáveis
A necessidade de reduzir o consumo de sacos plásticos no Brasil, que atualmente chega a 12 bilhões de unidades por ano, tem levado as redes de varejo a estimular os clientes a substituí-los por outras alternativas. O Carrefour e o Walmart, por exemplo, são parceiros do Ministério do Meio Ambiente na campanha Saco é um Saco.

O uso de sacolas retornáveis é uma das principais alternativas para o consumidor abandonar os sacos plásticos. Desde o lançamento, em maio de 2008, o Walmart comemora a marca de mais de 2 milhões de sacolas retornáveis vendidas, número que dá boas perspectivas para meta estabelecida pela rede de reduzir uso de sacolas plásticas em 50% até 2013.

Para que esse objetivo seja atingido, o Walmart lançou no final de 2008 um programa que dá ao cliente o crédito por sacola plástica não utilizada. O valor que o supermercado pagaria pela sacola (R$0,03) volta em crédito para o consumidor que deixar de usá-la. “Essa iniciativa nos possibilitou tirar do meio ambiente 12 milhões de sacolas e concedeu mais de R$ 360 mil em descontos para clientes” comemora Christiane Canavero, diretora de sustentabilidade do Walmart.

Educação para o consumo consciente
Os grupos de varejo têm apostado também na formação de funcionários para desempenharem o papel de multiplicadores dos conceitos do consumo consciente para os clientes. Paulo Pianez, do Carrefour, evidencia o papel protagonista dos centros de varejo e a importância de fazer investimentos em programas de educação dos funcionários como meio de levar informações para o consumidor. “Temos e assumimos essa responsabilidade. São mais de 1,5 milhão de pessoas que visitam nossas lojas por dia. Se formos eficientes com nossas práticas de abordagem ao consumidores, podemos considerar que, a cada quatro meses, chegamos a uma população equivalente à do Brasil”, analisa.

Entre junho a setembro de 2009, o Instituto Akatu realizou oficinas de capacitação de multiplicadores sobre o conceito e as práticas do consumo consciente para colaboradores da loja do Carrefour em Piracicaba. Desde 2007, o Akatu desenvolve com o Walmart o projeto “Educação para o Consumo Consciente”, voltado para os funcionários das lojas em todo o Brasil. Em 2008, foi realizado também o projeto “Cliente Consciente Walmart”, que disseminou conceitos e práticas de consumo consciente entre clientes da rede.

Para o consultor Aron Belinky, na caminhada para estabelecer padrões sustentáveis de oferta de produtos e serviços, é fundamental que o varejo assuma a responsabilidade de dar informações ao consumidor sobre o que ele está comprando. “Isso se faz oferecendo ao consumidor informações sobre a procedência dos produtos e dando a ele opções de diferentes de marca e em formato diversificado para cada produto vendido”, afirma. “As empresas dificilmente vão abandonar as práticas de estímulo ao consumo. Entretanto, já é um passo à frente se elas fizerem isso criando um ambiente que proporcione ao consumidor a possibilidade de escolha de acordo com a sua consciência de consumo, e não por impulso”.

Belinky conclui declarando que o ideal é que, para cada produto vendido na loja, esteja disponível ao consumidor o maior número de marcas e em vários formatos — como a possibilidade de comprar um produto a granel, por exemplo. “Assim, ele pode escolher os produtos baseado na qualidade, premiando marcas socialmente e ambientalmente responsáveis, ou então considerando a possibilidade de gerar menos resíduos”.

O Carrefour e o Walmart são parceiros estratégicos do Akatu e o Grupo Pão de Açucar, associado ouro.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Princípios e critérios para os programas de REDD

Com a intenção de contribuir para que o mecanismo REDD – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação cumpra seus objetivos, organizações da sociedade civil se uniram para a elaboração de um documento balizador. A discussão está em processo e aberta via consulta pública. Saiba, aqui, como participar

Manoella Oliveira - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 12/02/2010

As mudanças no uso de solos de florestas convertidas em áreas para pecuária e agricultura nas emissões de gases de efeito estufa são preocupantes. Estimada em até 20% do total de emissões mundiais causadas pela ação do homem, essa participação tem sido criticada e alvo de debates acerca das mudanças climáticas que preveem políticas de redução desse porcentual.

Na midiática e polêmica COP15, cujo sucesso ou fracasso depende da abordagem do especialista e da visão sobre cada tema, o assunto foi debatido e reconhecido como barreira às metas voluntárias levadas pelos participantes ao encontro. Apesar de não firmar um acordo legalmente vinculante, os representantes dos quase 200 países que estiveram em Copenhague (Dinamarca) admitiram não apenas a importância do REDD, mas também do REDD+, que engloba a conservação e o correto manejo florestal.

A partir desse quadro é fácil deduzir que, agora, os líderes mundiais irão se movimentar para alterar esse cenário indesejável - e que, para isso, será preciso planejamento e mais conversa. Embora reforçada pela última Conferência das Partes, da ONU, a discussão nasceu antes.

A necessidade de estabelecer critérios surgiu com mais força no Brasil no crescente debate do seminário Katoomba, realizado em Cuiabá, em abril do ano passado. “A preocupação era de que os projetos de REDD tanto governamentais quanto de mercado pudessem se multiplicar na Amazônia, o que traria várias oportunidades econômicas, mas também diversos riscos pela falta de referencial que desse conta do mínimo necessário para implementar projetos sem prejudicar o meio ambiente”, explica Maurício Voivodic, engenheiro florestal do Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, uma das instituições que se reuniu a ONGs para desenvolver os critérios socioambientais. “Por enquanto, não houve nenhuma problema na implementação de programas, mas, frente à falta de referencial, alguns podem se beneficiar desrespeitando a natureza e os direitos tradicionais dos povos da floresta”.

Desde a época do seminário, o mercado voluntário de carbono já trazia padrões de certificação internacionais, mas, claro, eles não levavam e ainda não levam - em conta as especificidades brasileiras. Por isso, o formato dos critérios nacionais é diferenciado, requer que os diversos setores envolvidos, tais como madeireiros e comunidades tradicionais e indígenas, estas raramente ouvidas, se manifestem. As sugestões podem ser feitas por meio de consulta pública até 31 de março.

QUAL A FUNÇÃO?
O texto preliminar de Princípios e Critérios Socioambientais de REDD não vai se tornar um sistema de certificação e não compete com os internacionais. A ideia é que o texto seja adicional ao sistema de certificação existente, ainda assim, a tendência, na opinião dos envolvidos, é que ele seja cada vez mais valorizado porque o mercado comprador é internacional e exigente e as novas exigências serão mais adequadas à realidade nacional.

“Esses padrões mundiais não vêm de discussões de atores do Brasil e, portanto, vários critérios não são aplicáveis ao país. Eles não refletem realmente as preocupações socioambientais que os atores têm em relação ao mercado de carbono porque foram discutidos numa dinâmica diferente”, afirma Voivodic.

A grande expectativa é a de que os princípios e critérios socioambientais de REDD ganhem tamanha força política que, qualquer projeto, ainda que certificado por padrões internacionais, se oriente também por eles. Outra conquista desejada é de que o documento influencie as políticas públicas no Brasil. Por agregar, desde produtores a pólos indígenas, o engenheiro florestal acredita que a empreitada está no caminho para consolidar seu peso político.

No final de outubro, foi formado o Comitê de Elaboração e Revisão do Padrão, composto por atores sociais - entre interessados e povos que serão afetados pelo tipo de implantação do mecanismo de REDD - que trabalhou para criar a primeira versão do documento que está em consulta pública desde primeiro de dezembro. Desde então, estão acontecendo reuniões regionais, em todos os biomas do país, e setoriais que terminarão ao final de março. (Conheça os integrantes do Comitê)

Em abril, o Comitê se reunirá novamente para analisar os comentários e contribuições e fazer uma segunda versão. Caso haja muitas alterações, pode ser que o grupo decida encaminhar o texto para nova consulta pública. A intenção é que o processo esteja concluído ainda no primeiro semestre.
“O objetivo de ampliar a discussão e fazer com que o documento reflita as preocupações dos brasileiros. Queremos que a sociedade se sinta parte do documento”, resume Voivodic.

Os formulários da consulta pública devem ser preenchidos e enviados por email para consultapublica@reddsocioambiental.org.br ou por fax: (19) 3414-4015.

Damanhur, um sonho possível

Esperide Ananas, representante internacional da ecovila

Localizada em Piemonte, na Itália, a Federação de Damanhur é uma ecovila que propõe um novo modelo de organização comunitária e de vida. Aqui, a representante internacional, Esperide Ananás, conta um pouco sobre a história da comunidade e mostra que sonhar e colocar a mão na massa são ingredientes essenciais para um mundo muito melhor

Por Thays Prado - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 04/03/2010

Silvia Buffagni é formada em Literatura inglesa e espanhola pela Universidade IULM, em Milão, com mestrado em Artes da Comunicação pela Universidade de Nova Iorque, fluente em cinco línguas, já trabalhou no Parlamento Europeu e foi consultora de organizações italianas e internacionais. Em 1992, quando trabalhava em Milão como Relações Públicas e já era reconhecida pelo seu trabalho na Itália, foi convidada por um amigo a conhecer a Federação de Damanhur, uma eco-sociedade que existia desde 1975 e propunha um novo modelo de organização comunitária e de vida. A intenção do convite era pedir à Silvia que organizasse uma campanha junto à imprensa para apresentar, ao mundo, aquela comunidade e os Templos da Humanidade – verdadeiras obras de arte construídas por seus moradores.

“Era julho, estava muito quente e eu disse que não iria, que preferia ir à praia”, conta. No entanto, a insistência do amigo foi tão grande que ela resolveu ir até o local para ver o que ele queria lhe mostrar e seguiria para a praia logo depois. “Fiquei tão encantada que, não só não fui à praia naquele final de semana, como decidi ajudá-los a divulgar a existência dos templos para as pessoas. E resolvi morar ali”.

Hoje, Silvia Buffagni é Esperide Ananás. O nome escolhido por ela para a vida na comunidade faz referência a uma espécie de borboleta e ao abacaxi, para contemplar tanto o ar quanto a terra. Esperide é a representante internacional de Damanhur, ministra seminários pelo mundo sobre novos modelos sociais, econômicos e espirituais para a sustentabilidade e trabalha com cura sélfica na comunidade.

Desde 2005, ela também é membro do Pearl Group, um programa destinado a empresas, que ajuda as pessoas a se abrirem para a própria criatividade por meio de jogos e meditação. “A prática é voltada para quem tem êxito profissional, mas não sabe o que fazer de sua vida e quer algo diferente”, define.

Em agosto de 2009, Esperide veio ao Brasil para participar da Campanha para Liderança Climática, do State of the World Forum, conhecida como Brasil 2020, lançada em Belo Horizonte. Em seguida, veio para São Paulo, onde ministrou palestras e fez atendimentos. Na época, ela conversou com o Planeta Sustentável e contou sobre a vida em Damanhur. O mais interessante é que várias práticas adotadas ali podem servir de modelo e ser replicadas em vários lugares do mundo.

Como surgiu a Federação de Damanhur?
Em Turim [Itália], havia um centro que trabalhava com medicina natural e atividades chamadas de paranormais, ou seja, todas as coisas que não se podia explicar. Oberto Airaudi [fundador de Damanhur] trabalhava e dava palestras nesse centro e, depois de um tempo, juntamente com um grupo que se encontrava todo final de semana, decidiu se dedicar a ter uma vida verdadeiramente espiritual em uma comunidade. Eles rodaram o mundo durante dois anos para encontrar um lugar adequado e, quando voltaram à Itália, Oberto sugeriu que eles fossem ver o que havia nas colinas próximas de Turim. Não havia nada além de pinhas: o lugar era completamente inóspito. De repente, um senhor muito velho chegou até eles gritando: por que demoraram tanto? Estou esperando vocês há anos!

Então, ele contou que, anos antes, teve um sonho em que uma mulher lhe dizia para comprar aquelas terras, pedaço por pedaço, porque uma comunidade iria se formar ali e servir de exemplo para todo o mundo. Esse senhor não tinha muitos recursos e pegou todo o seu dinheiro para atender ao pedido. Mas, durante um bom tempo, nada aconteceu. O grupo comprou as terras e deu início a Damanhur.

Quantas pessoas compunham esse grupo?
Damanhur começou com 13, 14 pessoas, depois eram 40 e depois muitos mais. Hoje, são cerca de mil habitantes. Em 1992, os templos construídos pelos moradores da comunidade foram descobertos e começou a vir gente de todo o mundo. Já estamos na terceira geração de damanhurianos, são filhos dos filhos dos que nasceram em Damanhur, e estamos muito felizes com isso, pois agora temos uma sociedade dinâmica.

Vocês se denominam uma ecossociedade. O que caracteriza esse conceito?
Viver em uma eco-sociedade é trabalhar para deixar a terra melhor do que como a encontramos. Tratamos de viver segundo os mesmos princípios propostos pela Carta da Terra. São princípios que já havíamos escolhido e foi fantástico ver que eles também estão escritos, são claros e servem de referência para o mundo. Entendemos que a ecologia não se resume à Terra, mas às relações humanas.

A espiritualidade está muito presente em Damanhur. Como você relaciona espiritualidade e sustentabilidade?
Sem espiritualidade não podemos construir uma vida sustentável. A espiritualidade é o valor que nos faz sentir que, ao final, todos somos um. Esse é um valor ético muito profundo que precisamos despertar para nos livrar desse egoísmo, transmitido pela propaganda, durante anos e anos, para termos cada vez mais e pensarmos apenas em nós e em nossa pequenina família. Os demais não existem.

Só um despertar espiritual pode mudar isso de uma forma rápida, já que não temos mais muito tempo. Por isso construímos os templos em Damanhur. Foi uma forma de criar um espaço sagrado para que aqueles que os visitem sintam a presença desses valores.

Há uma religião em Damanhur?
Os novos tempos não são para as religiões. Elas foram úteis até certo ponto, mas em muitos lugares, as religiões não servem para despertar as pessoas. Por exemplo, o Papa diz que não podemos praticar a contracepção, mas se não diminuirmos a quantidade de gente que vive neste planeta, vamos morrer todos.

A espiritualidade deve funcionar como um despertar de valores éticos, e apenas falar sobre o assunto não é o suficiente. É por isso que temos a comunidade, afinal, é na vida cotidiana que podemos verificar se estamos crescendo de forma espiritual. Se os templos são belos, mas as pessoas brigam ou há sujeira nas ruas, não estamos praticando a espiritualidade.

Viver em comunidade não deve ser sempre fácil. Não existem conflitos entre os moradores?
Claro que existem e é importante não ter medo desses conflitos, mas encará-los como uma energia que pode ajudar a transformar certas coisas. Agora, se as pessoas querem brigar de forma destrutiva, nossa tradição diz que elas têm que sair da comunidade. Como a competição faz parte da essência dos seres humanos, nós utilizamos muitos jogos para que isso possa ocorrer de forma controlada e positiva, o que ajuda muito a reduzir os conflitos. Fazemos concursos de arte e também guerras de tinta colorida nos bosques, na época do inverno.

O que é necessário para se morar em Damanhur?
Querer muito viver como vivemos. Muita gente vai à comunidade para fazer cursos ou mesmo para tirar férias, mas se a pessoa quer viver em grandes famílias como vivemos e dividir a vida conosco, há um programa para novos cidadãos que vai de seis meses a um ano. Um grupo de interessados vive junto durante esse período e há mentores que os ajudam a se inserir em todos os aspectos da vida na comunidade. Mas é necessário que cada um encontre uma forma de viver do seu próprio trabalho.

Quem nasce em Damanhur normalmente continua morando lá a vida toda?
A maioria dos jovens se foi, no começo. Muitos deles vivem perto de Damanhur, mas não querem para si a experiência da vida em comunidade. Acredito que isso se deve ao fato de seus pais terem ficado muito ocupados com a garantia da sobrevivência de todos, já que no começo não havia muito dinheiro na comunidade e a vida era mais dura. Acho que esses garotos não tiveram uma experiência tão positiva e estão em uma fase de buscar sua individualidade.

Mas isso tem mudado. Os jovens que nasceram depois vão e regressam. Até porque Damanhur agora é muito mais interessante, temos gente de todo o mundo, dinheiro, muitas atividades culturais, as casas são belas...

Temos muito cuidado para que a vida ali não se torne uma doutrina. Para nós, é importante que a individualidade de cada criança seja respeitada para que possam escolher o que querem fazer quando crescerem. Não pensamos que, só porque nasceram em Damanhur, elas vão ficar. Nós esperamos que fiquem e transmitimos valores importantes, mas não queremos que vivam de uma forma fechada. Por isso, os jovens viajam e são incentivados a passar um ano fora estudando. Não se pode ficar em Damanhur sem querer.

O que você considera a grande contribuição de Damanhur para o mundo?
Podemos ser um laboratório para a humanidade e ensinar ao mundo que é possível viver de forma diferente. Foram pessoas normais que construíram Damanhur, mas criamos algo belo para dar sentido à vida. Os sonhos são fundamentais para os seres humanos, não podemos viver apenas com a realidade, mas também precisamos agir para dar materialidade a eles. Não há nada pior do que sonhos que não se realizam.

domingo, 7 de março de 2010

Lar certificado

Quem procura uma casa ou um apartamento para morar terá mais um fator para pesar na hora da compra, além de preço e localização: o selo do Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) para empreendimentos residenciais

Giuliana Capello
Revista Arquitetura & Construção – 02/2010

Lançado pela Fundação Vanzolini como pioneiro no setor, que contava apenas com certificações para projetos comerciais e industriais, o novo selo nasceu de um convênio com a certificadora francesa Cerqual.

“Ele atestará as qualidades dos projetos”, diz o coordenador executivo Manuel Carlos Reis Martins. Os futuros moradoresterão garantia de um imóvel mais saudável e com menor consumo de água e energia. E a sociedade também ganha, já que o documento com os critérios do AQUA ficará à disposição para consulta pública. “Qualquer pessoa poderá usá-lo como referência”, afirma Francisco Ferreira Cardoso, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.

O sucesso, porém, depende da adesão do mercado e dos consumidores. “Mas a tendência é que os edifícios certificados se destaquem”, avalia Hamilton Leite Júnior, diretor de Sustentabilidade do Secovi-SP.

COMO FUNCIONA A CERTIFICAÇÃO
O selo AQUA analisa o desempenho ambiental e as soluções de projeto. É diferente da proposta do Americano LEED, que traz uma lista de créditos a serem contemplados. “A certificação não exige aquecimento solar, e sim economia de energia”, exemplifica Manuel Martins.

VEJA MAIS DETALHES:
- Os edifícios são avaliados no local e certificados em quatro etapas: programa, concepção, realização e operação.
- A avaliação compreende 14 critérios, divididos em quarto grupos: ecoconstrução, ecogestão,
conforto e saúde.
- Cada critério é classificado como bom, superior ou excelente. Para obter o selo, é preciso ser bom em todos e atingir, no mínimo, quatro marcas no nível superior e três no nível excelente.

Brasileiros aprovam construções de luxo mesmo sendo danosos ao meio ambiente

Reportagem exibida pelo Fantástico testou o grau de consciência dos brasileiros sobre o consumo consciente. Iniciativa foi idealizada pelo Akatu e desenvolvida pela agência de publicidade Lew’Lara\TBWA

A reportagem idealizada pelo Akatu e pela agência de publicidade Lew’Lara\TBWA e exibida no Fantástico, no domingo, dia 28 de fevereiro, flagrou brasileiros aprovando empreendimentos de alto padrão nos mais famosos cartões postais do país, mesmo sabendo que eles causam danos ao meio ambiente. A maioria dos entrevistados se mostrou interessado em comprar apartamentos projetados em lugares públicos destinados ao lazer. Nas areias da Boa Viagem, em Recife, 61% aprovou o empreendimento e, na praia de Pitangueiras, no Guarujá, 59% das pessoas gostaram da ideia de construir o prédio na areia da praia.

"Havia o pressuposto de que as pessoas achariam um absurdo construir um prédio na areia da praia, mas essa não foi a reação da maioria, que pelo contrário, se mostrou muito interessada em comprar. Alguns ainda questionaram a legalidade dos empreendimentos, mas poucos ficaram indignados do ponto de vista ético”, expõe Helio Mattar, diretor presidente do Akatu.

Tudo começou em 2009, quando o Akatu pediu à Lew’Lara\TBWA uma campanha sobre o assunto. O objetivo era gerar reflexão sobre o impacto daquilo que consumimos e criou-se um projeto cuja ideia era demonstrar de forma mais lúcida possível o impacto de uma compra no limite da caricatura. Posteriormente, o projeto foi apresentado à Rede Globo e o Fantástico abraçou a ideia.

No último domingo, a reportagem de 7 minutos abriu o programa e chamou a audiência para opinar sobre o assunto no site do Fantástico, gerando ainda mais reflexão sobre o consumo consciente. No próximo domingo, dia 7, vão ao ar os resultados de Brasília e Rio de Janeiro.

Mattar chama atenção para o objetivo principal das reportagens: “acredito que foi um jeito muito criativo e ousado de levar as pessoas à reflexão e, é fundamental que não apontemos o dedo para quem manifestou desejo de comprar o apartamento. Isso tem de ser colocado no contexto da cultura de uma sociedade em que não há sensibilidade para os impactos do consumo. Se a pessoa tem dinheiro, e se é algo legal, compra e está resolvido. As pessoas não têm consciência dos impactos. Entretanto, quando isso for levado ao nível da consciência, elas não comprarão e tomarão outras decisões. Hoje, não é assim — hoje, se é legal, é ético.”

Fonte: Instituto Akatu