quarta-feira, 10 de março de 2010

Jaime Lerner: cidades são soluções, não problemas

Neste primeiro dia da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, em Curitiba, o arquiteto Jaime Lerner, conselheiro do Planeta Sustentável, encantou a platéia com suas ideias. Apontando para medidas que se enquadram em duas perspectivas – planejamento a longo prazo e acupuntura urbana – ele focou em soluções para o transporte urbano

Daniela Silva - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 10/03/2010

Acompanhe cobertura da CICI2010 pelo Twitter do Planeta Sustentável: @psustentavel

A CICI2010 – Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, sobre a qual já falamos, aqui, no Planeta Sustentável – sugere práticas e reflexões que colocam as cidades no centro dos processos de inovação em prol do desenvolvimento, da integração social e da sustentabilidade. No seu primeiro dia, a CICI2010 refletiu sobre temas como a retomada do protagonismo das cidades no mundo contemporâneo, o papel das empresas e das universidades na inovação, modelos de educação voltados para o novo e o lugar da tecnologia em todas essas medidas.

No fim do dia, as atenções se voltaram para a palestra de Jaime Lerner, conselheiro do Planeta Sustentável, que falou sobre suas realizações enquanto arquiteto, urbanista e gestor público, com um mote contundente: "cidades não são problemas, são soluções".

A prática de cobrir o solo de concreto, o crescimento desordenado, a intensa verticalização das moradias, a falta de solução para o transporte – todos esses problemas, que tanto sacrificam o meio ambiente e a sociedade, são tratados frequentemente como características intrínsecas à vida nas cidades. Em sua fala, Lerner retomou a importância dessa forma de organização social. Sem deixar de considerar graves questões, que pedem soluções urgentes para a vida na urbes – como, por exemplo, o fato de que 75% das emissões de carbono se originam nas cidades –, Lerner apontou medidas que se enquadram em duas perspectivas: a do planejamento a longo prazo e a da acupuntura urbana (assista ao vídeo sobre esse tema indicado no final deste texto). A adoção de sugestões como essas, e principalmente a transformação conceitual que elas representam na forma de gerir e vivenciar o espaço público, reposicionam as cidades, tirando-as do papel de "problema" e promovendo-as como focos de ação e solução em prol da sustentabilidade.

Boa parte do depoimento de Lerner teve foco em soluções de transporte urbano. Várias novas ideias foram mencionadas, como formas de modificar a maneira como as pessoas se locomovem nas cidades onde vivem. Lerner afirmou que, apesar de as pessoas pensarem sempre no metrô como grande solução para os problemas de transporte em grandes cidades, uma política de transporte público não pode privilegiar apenas um ou outro veículo. Entre as menções do brilhante arquiteto, ônibus inteligentes, metrô de superfície e subterrâneo (integrados por mezaninos que ligam os níveis das cidades, boulevards ou passeios públicos), e mesmo o carro, com um uso muito diferenciado daquele se faz dele hoje. Ele mostrou o protótipo do dock car (leia também as reportagens indicadas no final deste texto sobre este modelo), um pequeno veículo que ocupa um sexto do tamanho de um carro de passeio – carrega a mesma única pessoa, como (infelizmente) a maioria dos carros de passeio em trânsito, mas é mais eficiente, polui menos e ocupa muito menos espaço nas vias.

Lerner defendeu que a cidade sustentável é aquela que se adequa a uma série de diferentes princípios. Só green buildings não são suficientes, já que o percurso entre eles tem que se dar em uma cidade verde. Encontrar novas formas de energia também é essencial. Principalmente, reutilizar recursos e gastar menos são tarefas a serem aprendidas por todos, e desempenhadas no micro para fazer a diferença no macro. Para mostrar como desempenhar esse tipo de mudança cotidiana, Lerner lembrou do trabalho feito na cidade de Curitiba, onde foram as crianças, estudantes de escolas públicas e privadas da região, que primeiro aprenderam e depois ensinaram seus pais a separar o lixo. Hoje, a cidade já tem coleta seletiva há 20 anos, e entre 60 e 70% dos curitibanos praticam a separação, que é importante para reduzir em até dois terços a produção de lixo no espaço urbano.

"Inovar é começar", afirmou Lerner. Para dissolver a insegurança de empreender transformações, e mesmo a heterogeneidade do ambiente político, a solução apontada por Lerner é a de empreender pequenos projetos, que se refletem em grandes transformações na vida das cidades, mesmo enquanto ainda se prepara ou se executa um planejamento mais complexo e de longo prazo – o que chama de acupuntura urbana, ações pontuais e rápidas que criam uma nova energia para a urbes, e assim acabam ajudando no processo de planejamento. "Ideias simples trazem mais inovação do que projetos grandiosos", concluiu o urbanista.

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