terça-feira, 13 de abril de 2010

Arquiteto Massimo Iosa Ghini

“Sustentabilidade é produzir qualidade e beleza com recursos limitados”
Nos anos 1980, o arquiteto italiano Massimo Iosa Ghini começou a carreira fazendo design de vanguarda. Na época, trabalhou no grupo Memphis, criando objetos e móveis inusitados. Depois, fundou seu estúdio de arquitetura e design. Antes de uma visita a São Paulo, para uma palestra na feira Revestir, ele falou com Casa Claudia.


Cristina Bava e Lucila Vigneron Villaça
Revista Casa Claudia – 03/2010

Quais são suas expectativas em relação ao Brasil?
Eu já estive no Brasil. Eu me lembro de que visitava o Rio de Janeiro e pedi para ir a Brasília, o que causou estranhamento nas pessoas. Algumas coisas me chamaram a atenção no país: a arquitetura de vanguarda, a inovação na área social e a afinidade com a cultura italiana. Sou um grande admirador de Niemeyer: sua nãorenúncia à expressividade o torna uma espécie de herói.

Você fará uma palestra sobre sustentabilidade e beleza na arquitetura e no design. Como une essas duas características em seus projetos?
A sustentabilidade pode ser interpretada como algo racional e funcional: uma resposta técnica ao problema doequilíbrio ambiental. Mas acho que não podemos ignorar o lado instintivo, poético, inexplicável, o tremendo esforço de unir a necessidade material à elevação espiritual.

A busca da beleza como elevação fez parte da tratradição humanística italiana e eu sou parte dessa história. A sustentabilidade também sempre faz parte desse percurso projetual. O design italiano mostrou ao mundo como produzir qualidade e beleza com recursos limitados. E eu busco me manter fiel ao espírito dessa tradição.

Você se formou em arquitetura, mas trabalha em muitas áreas: projetos de edifícios, design de interiores e design de produtos. Tem alguma preferência?
Penso no projeto como uma viagem em que o ponto de partida é entender os problemas e encontrar as melhores respostas. É nossa tarefa achar a solução que tenha o poder de convencer, com um pequeno ou um grande salto à frente. Esse método se aplica a qualquer projeto, de uma colher a uma cidade. Ultimamente, amo projetar edifícios porque é uma comunhão de muitas soluções, que deve produzir um resultado único e harmônico.

Como é o seu processo de produção?
O processo criativo é todo desenvolvido em nosso estúdio: nós “colocamos numa caixa” todos os problemas, e ali conversamos, discutimos, desenvolvemos, corrigimose tudo recomeça. Depois de várias etapas como essa, aflora a qualidade. Mas nem sempre, pois não é fácil. Com insistência, acontece, pois essa é a lógica do projeto. Eu desenho objetos artísticos e para a indústria. Os artísticos são fruto de uma exigência pessoal, cuja única intenção é estimular a mim mesmo. Há outros que servem para provocar debates. Também desenho objetos que são condicionados à exigência do mercado.

Você prefere trabalhar com algum material?
Já desenhei objetos de plástico, fibra, vidro, metal, cerâmica, pedra. A madeira passou a me interessar agora, pois percebo que ela tem afinidade com meu modo de ver o mundo hoje. Nem todos os tipos de madeira servem, mas muitos podem ser usados e ajudam a não emitir CO2.

Como o design contribui para melhorara vida das pessoas?
O design é um pensamento aplicado às transformações da matéria. Não acredito que seja demagógico dizer que, onde há pensamento, há evolução e aumento de qualidade de vida para as pessoas.

Como a tecnologia influencia seu trabalho?
A tecnologia mudou muitas coisas em nosso jeito de trabalhar: menos desenhos e mais pensamento, mais trocas via web. Porém a meta permanece intacta. Em meu estúdio, sou o único que ainda trabalha com lápis.

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