quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Conheça melhor os biocombustíveis e suas diferenças

Por Ana Luiza Silveira • 30/07/2008 - MSN Verde

Um dos maiores desafios propostos pelo agravamento do aquecimento global tem sido o futuro da produção de energia. Assim como para a água e os alimentos, as previsões para o abastecimento energético do mundo nos próximos anos não são das mais animadoras. Isso porque os combustíveis fósseis - cuja combustão emite altas doses de gás carbônico, um dos causadores do efeito estufa - ainda são responsáveis pelo fornecimento de três quartos de toda a energia consumida no planeta. E o petróleo, além de caro, é finito. Além dessa dependência de combustíveis tão poluentes, há outro problema: as disputas geopolíticas que atingem a maioria dos países produtores de petróleo, que resultam em guerras, problemas diplomáticos e o fortalecimento de ditaduras. Sendo assim, tornou-se urgente a transição para o uso de fontes de energia limpas e renováveis, que não prejudiquem o planeta e nem coloquem as nações em pé de guerra. Em outras palavras, está lançada a corrida pela adoção eficiente de biocombustíveis e energias alternativas.

Os biocombustíveis são materiais biológicos renováveis que, quando colocados em combustão, conseguem gerar energia suficiente para gerar algum tipo de trabalho. São derivados de produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar, e também de biomassa, matérias orgânicas e plantas oleaginosas. O álcool proveniente da cana-de-açúcar é o mais difundido e o preferido do governo brasileiro para ser usado nas próximas décadas, pois é bem menos poluente do que os combustíveis derivados do petróleo. Por mais que essas novas matrizes energéticas venham sendo apontadas como a salvação da nossa energia, elas não escapam de algumas polêmicas. Conheça os mais comentados biocombustíveis do momento:

Biomassa

É uma fonte limpa de energia, totalmente renovável, proveniente de variados materiais orgânicos. Cana-de-açúcar, restos de madeira, lenha, galhos, embalagens de papelão, papéis velhos, óleo vegetal, estrume de gado, pó de serra e casca de arroz, entre outros, podem ser utilizados na sua composição. Até parte do lixo urbano pode ser usado na produção de energia elétrica, e isso já vem sendo feito em algumas cidades do mundo.

O uso de biomassa é bastante vantajoso, pois os resíduos emitidos na sua queima não são poluentes e, conseqüentemente, não contribuem com o efeito estufa. Como são utilizados restos de produção ou de lixo, não são necessários altos custos de implementação e manutenção do processamento, o que facilita a produção. O único porém é que pode haver diminuição na produção de energia nos períodos de entressafra.

Biodiesel

É um combustível derivado de óleos vegetais extraídos de diversas matérias-primas, como mamona, soja, algodão, babaçu e dendê, entre outras. Também pode ser obtido no reaproveitamento do óleo usado em frituras ou por meio de gordura animal. Para transformá-los em fonte de energia, essas matérias-primas são moídas para a extração de seus óleos, que depois são misturados com álcool, preferencialmente o etanol. O biodiesel deverá substituir quase todos os derivados do petróleo, com a vantagem de não exigir modificação nos motores.

As vantagens do biodiesel são muitas. A principal delas é a redução das emissões poluentes dos derivados de petróleo em até 80%, o que já colabora bastante para a diminuição do efeito estufa. Por ser biodegradável, não-tóxico e não-explosivo, o biodiesel pode ser transportado e armazenado com segurança, sem causar danos ambientais. E, ao contrário dos combustíveis fósseis, que possuem enxofre em sua composição, o biodiesel não contribui para a ocorrência de chuva ácida - que é prejudicial às lavouras, às florestas e aos animais.

Etanol

É o famoso álcool etílico usado na fabricação de desodorantes, perfumes, produtos de limpeza, bebidas alcoólicas e medicamentos. Deriva de cana-de-açúcar, milho, mandioca, trigo e de outros cereais por meio da fermentação da sacarose (o açúcar presente nesses alimentos). Como possui vastas lavouras de cana-de-açúcar em seu território, o Brasil não só é o maior produtor e consumidor de etanol, como também o maior exportador do mundo, com mais de 2 bilhões de litros vendidos somente em 2005. Mas a produção também é grande em outros países, como Estados Unidos, Canadá, Índia e Colômbia.

Com tanta gente produzindo e com tantas matérias-primas disponíveis, o etanol tem toda a chance de se tornar o número 1 dos biocombustíveis do futuro. Porém, ele esbarra em uma grande polêmica ambiental. Vários países já se manifestaram junto à Organização das Nações Unidas contra sua produção, pois acreditam que esse combustível - tanto o feito à base de milho quanto o de cana-de-açúcar - possa afetar a produção de alimentos no mundo e também contribuir para o desmatamento. ONGs de vários cantos do mundo também acusam os produtores de utilizar a produção agrícola com fins energéticos em detrimento da alimentação. O impacto dessas queixas foi tão grande que, no ano passado, a ONU sugeriu uma moratória de cinco anos na produção de etanol, para os governos avaliarem os impactos sociais, ambientais e de direitos humanos gerados.

Biogás

É uma mistura de metano, gás carbônico e outros gases em pequenas quantidades produzida a partir de biomassa, como bagaço vegetal, lixo, esterco e outras matérias em decomposição. E quem é responsável pela decomposição são alguns tipos de bactérias, que transformam a matéria orgânica em substância química. Misturada com gases, essa substância dá origem a um combustível que pode ser usado em motores, aquecedores, geradores e eletrodomésticos, entre outros produtos que necessitam de energia para funcionar. Em alguns países, como a Suíça, o biogás já vem sendo usado com sucesso como combustível do transporte coletivo.

Aqui no Brasil, o biogás é visto como uma forma de realizar o tratamento adequado dos resíduos sólidos, com a valorização dos aterros sanitários e o resgate social dos catadores que atuam nos lixões. Também vem sendo apontado como uma solução para evitar os "apagões" no setor de energia e uma forma de reduzir as emissões do metano, produzido a partir dos aterros de lixo.

Combustíveis sintéticos

Na busca por fontes de energia mais eficientes e menos poluentes, cientistas vêm tentando desenvolver diesel e gasolina à base de gás natural, carvão ou biomassa. O gás natural já vem sendo usado em alguns países, mas a emissão de poluentes não é tão reduzida em comparação a combustíveis derivados do petróleo. Já os sintéticos à base de biomassa são mais vantajosos ambientalmente, pois representam uma redução de aproximadamente 90% na emissão de gases tóxicos. Ainda são necessários alguns estudos para colocar os sintéticos de biomassa no mercado, mas acredita-se que eles estarão disponíveis dentro de poucos anos.

Energia solar

É a mais disponível, mas também uma das mais caras, pois a captação é feita por enormes painéis feitos de vidro espelhado e células de silício. Quando incidem sobre uma camada de condutores instalados nesses painéis, os raios de sol fazem com que os elétrons ali presentes comecem a se movimentar, produzindo energia. Mesmo que já esteja sendo usada em alguns países, a energia solar não tem muita força para emplacar, devido ao alto custo e à possibilidade de sofrer com a baixa eficiência em dias nublados.

Energia eólica

É a energia obtida por meio da força dos ventos, muito popular em alguns países desenvolvidos, como a Dinamarca e a Alemanha - esta última possui o maior parque de moinhos de vento do mundo. Aqui no Brasil, existe um parque eólico na cidade de Osório, no Rio Grande do Sul, com capacidade para cobrir metade da necessidade de energia elétrica de Porto Alegre. Mesmo sendo uma tecnologia cara, diversos países vêm estudando a possibilidade de adotar os moinhos para substituir o uso de combustíveis fósseis, já que a energia é limpa e eficiente. Igualmente otimistas, alguns especialistas acreditam que ela possa vir a ser, a longo prazo, uma das maiores responsáveis pelo consumo mundial de energia.

Energia marinha

Alguns países da Europa, além da Austrália e do Japão, já possuem usinas para retirar energia do movimento das ondas do mar. Nelas, as ondas provocam um fluxo de ar que gira uma turbina e produz eletricidade. No Brasil, existem projetos de adotar bombas hidráulicas com o mesmo propósito, mas ainda deve levar mais uns cinco anos para que esse tipo de energia seja produzido. Por mais que seja uma energia limpa e barata, não substitui os combustíveis fósseis, pois só serve para a produção de eletricidade.

Hidrogênio

Como pode ser obtido diretamente do metano e da água, é uma fonte abundante de energia. Já existem tecnologias para produção do hidrogênio como combustível - como é o caso das experimentações em automóveis -, porém a idéia ainda não é economicamente viável. Além de caras tecnologias para a sua fabricação, o combustível de hidrogênio ainda é um pouco poluente, por causa do metano em sua composição. E tem preço cinco vezes superior ao da gasolina. Apesar disso, são uma boa alternativa, e as expectativas são de que os carros movidos a hidrogênio comecem a circular nas ruas de todo o mundo dentro de 15 anos.

Energia Geotérmica

Por ser expressivamente menos poluente, já é usada em 21 países, abastecendo 60 milhões de pessoas. Mas esse tipo de energia é o mais complicado de se obter, pois as usinas precisam ser construídas junto a acidentes geográficos, como vulcões ou gêiseres, que facilitam o acesso ao subsolo da Terra - cujo calor aumenta 3 graus a cada 100 metros de profundidade. Para complicar, as usinas são caras. Existem estudos para tentar construir essas usinas em locais onde não há acidentes geográficos, mas ainda assim a implantação exige altos investimentos. Ou seja, as chances de implantação em outros países são muito pequenas.

"Querosene" biológico

Em fevereiro de 2008, um boeing da companhia aérea inglesa Virgin fez seu primeiro vôo movido a biocombustível de óleo de côco e babaçu - uma mistura com efeitos energéticos bem semelhantes aos do querosene feito à base de petróleo. O avião foi de Londres até Amsterdam, na Holanda, sem apresentar problemas. Acredita-se que, em breve, essa mistura possa ser usada correntemente na indústria da aviação, fazendo com que os vôos sejam bem menos poluentes.

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