sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Gestão do Lixo

Estudo alerta sobre a carência de planejamento para gestão do lixo em empreendimentos de interesse social


Condomínios populares também precisam de gestão do lixo. A idéia que parece óbvia não é uma realidade e merece atenção quando o assunto é moradia de interesse social.

Uma avaliação técnica realizada em 11 empreendimentos do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), na cidade de Pelotas (RS), permitiu medições das trajetórias percorridas pelos usuários até a deposição do lixo – e mostra que os moradores chegam a caminhar três vezes a distância recomendada. O estudo revela que mais de 80% dos condôminos estão a distâncias inadequadas dos pontos de coleta.

“Analisando os gráficos percebe-se que o lixo não é pensado como uma rede de pontos conectados dentro do espaço condominial. Não é concebido como um sistema que precisa de deslocamento entre um ponto e outro”, explica a arquiteta Ângela Cristina Bosenbecker, do Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Em sua opinião, há uma negação por parte dos projetistas e analistas de projetos sobre a existência do lixo. “É como se este serviço de apoio à vida diária fosse ignorado pelas normas e pelos projetistas, e só viesse à tona quando as falhas na prestação do serviço deixassem suas marcas: lixo acumulado, dejetos após a passagem do veículo coletor, odores”, complementa a professora Nirce Saffer Medvedovski, orientadora do projeto ´Geração de indicadores de qualidade de espaços coletivos em Empreendimentos de Habitação de Interesse social (Inqualis)`. Este projeto da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem apoio financeiro do Programa Habitare, da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por meio da rede de pesquisa ´Ciência e tecnologia e inovação para a melhoria da qualidade e redução de custos da Habitação de Interesse Social`. A universidade desenvolve o trabalho com foco nos espaços coletivos dos empreendimentos.

Serviço desprezado

O cuidado com o lixo foi avaliado em 11 conjuntos residenciais do Programa de Arrendamento Residencial na cidade de Pelotas

O estudo também alerta para a falta de integração entre o sistema de coleta municipal do lixo e o sistema interno do condomínio.

Além disso, sem investimentos em materiais e equipamentos no período da construção dos conjuntos, esse serviço fica relegado a um segundo momento, para que os usuários, administradoras e o poder municipal decidam sobre sua operação e manutenção.

De acordo com a equipe, recomendações sobre acondicionamento e coleta do lixo domiciliar são raras na bibliografia em geral. “O tema é tratado de forma sucinta, como parte das normas relativas ao sistema viário, e as orientações são eminentemente qualitativas, deixando ao bom senso e experiência dos urbanistas e administradores decidir sobre como concretizar o serviço”, descreve Ângela em um artigo que será levado em novembro ao Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído.

Segundo ela, alguns códigos de obra exigem para os condomínios localizados nos bairros servidos com coleta seletiva de lixo a colocação de recipientes próprios, que garantam a coleta distinta dos resíduos, cabendo ao executivo municipal determinar a quantidade e capacidade destes equipamentos. Mas não há na legislação referências quanto ao dimensionamento, localização e tipologia destes aparatos para disposição do lixo.

“É um conhecimento fragmentado, com pouca ênfase nas relações de desempenho da limpeza das áreas habitacionais”, complementa. Para a equipe, o trabalho ressalta a importância de que os conjuntos habitacionais populares tenham uma concepção de gestão do lixo domiciliar na etapa de projeto, incorporando hábitos da população, aspectos climáticos e de desenho urbano.

A pesquisa

Foram avaliados 11 conjuntos residenciais do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) em Pelotas (RS), totalizando 1.506 unidades. Questionários foram aplicados para percepção do nível de satisfação dos usuários em relação ao sistema de coleta de lixo e à limpeza dos condomínios.

Para a avaliação técnica, além de material fotográfico produzido durante as visitas, foi usado check-list para levantamento de informações como órgão responsável (público, privado, prefeitura); localização dos depósitos de lixo (in loco); verificação da existência de depósitos inapropriados (in loco); frequência da coleta (com o órgão responsável); averiguação da existência ou não de coleta seletiva (órgão responsável e/ou in loco).

Este estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem apoio financeiro do Programa Habitare, da FINEP, por meio da rede de pesquisa ´Ciência, tecnologia e inovação para a melhoria da qualidade e redução de custos da Habitação de Interesse Social`.

A equipe leva em conta que a maior parte das avaliações das etapas de uso e manutenção desse tipo de empreendimento é voltada para a unidade habitacional (casa ou apartamento). Além disso, em geral os condomínios priorizam espaços de circulação e estacionamento, com blocos dispostos de forma isolada, sem criar espaços comunitários. Mas para comunidades de menor renda, espaços como parques, quadras, salões de festa e acessos têm grande importância, especialmente devido ao reduzido tamanho das moradias, às necessidades de socialização e privacidade, de geração de renda e dos reduzidos custos direcionados à manutenção, entre outros desafios relacionados a empreendimentos populares. O objetivo da equipe é propor indicadores para os processos de projeto e gestão das áreas coletivas dos conjuntos habitacionais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa tarde,

Vc saberia me dizer onde encontro esta pesquisa?É uma dissertação de mestrado?

Att